Filme V de Vingança | resenha

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O filme V de Vingança é um clássico inquestionável. Por isso merecia uma resenha à altura, mais uma de Louis Leite.

A primeira vez que vi V de Vingança foi ainda na infância, antes mesmo de compreender o que era política. Assisti com minha família e, como acontecia com muitas obras densas, a história pareceu confusa demais para minha mentalidade de criança. Por isso, só consegui guardar fragmentos das cenas mais marcantes —um homem mascarado, explosões e violência física.

Mas, com o passar dos anos, percebi que o filme nunca me deixou. E isso, ironicamente, é o próprio propósito de V de permanecer como uma ideia que resiste ao esquecimento.

V de Vingança se passa em uma Inglaterra distópica sob um regime totalitário e fascista. O governo, liderado pelo Alto Chanceler Adam Sutler, controla rigidamente a população por meio da censura e do medo — uma característica interessante, inspirada em regimes reais que surgiram em diversas épocas ao longo da história.

O personagem central, V, é um homem misterioso que vive por trás de uma máscara de Guy Fawkes — figura histórica que, em 1605, tentou explodir o Parlamento inglês.

V é o resultado de experimentos realizados com humanos — em sua maioria, opositores do governo ou integrantes de minorias, como LGBTs ou não brancos — conduzidos pelo próprio regime em um campo de detenção (esse que é uma clara referência aos campos de concentração nazistas). Esses experimentos mataram quase todos os prisioneiros, mas V sobreviveu, adquirindo força e resistência sobre-humanas. Tornou-se assim a arma biológica que o governo pretendia criar.

Graças a isso, ele destruiu o laboratório onde fora desenvolvido (ficando totalmente desfigurado no processo) e, anos depois, retorna para executar um plano de vingança contra os responsáveis e de derrubada ao sistema opressor.

A narrativa, porém, se inicia quando Evey Hammond, uma jovem cujo passado também foi marcado pelas intervenções brutais do governo contra o povo que o desafiava — algo constantemente enfatizado na obra: censura e controle —, é salva por V durante um confronto noturno, no momento em que está prestes a ser violentada por um grupo de policiais. Essa cena, para mim, é perfeitamente construída: mostra, de forma metafórica, que as autoridades encarregadas de proteger o povo são as mesmas que o destroem.

E após esse primeiro encontro, V envolve Evey gradualmente em sua luta, o que serve para mostrar o processo de despertar político e humano dela e, por extensão, do próprio povo britânico.

Logo nos primeiros instantes percebemos que o governo limita o conhecimento de seu povo para que este não compreenda a injustiça em que vive e, assim, não se oponha. Há uma frase marcante de V relacionada a isso, que simboliza o impacto do conhecimento disseminado entre as pessoas:

“O povo não deve temer seu Estado; o Estado é que deve temer seu povo.”

Ao longo do filme, compreendemos que frases como essa transformam V em uma figura simbólica, mais em ideia do que homem. Sua motivação vai além da vingança pessoal. Ele busca inspirar a população a se rebelar contra a tirania, despertando a consciência que lhes foi negada sobre a violência constante a que estão submetidos.

Politicamente, o longa questiona a linha tênue entre justiça e terrorismo, e o quanto a população pode ser cúmplice de sua própria opressão ao aceitar o controle estatal em troca de estabilidade. V representa a desordem necessária para romper uma ordem injusta, enquanto o governo representa uma ordem sustentada pelo medo. E, reforçando o que nos vinha sendo ensinado, o final é simbólico, com Evey e o povo completando o plano de V e detonando explosivos no Parlamento.

A última cena mostra centenas de cidadãos usando a máscara de Guy Fawkes, sugerindo que V nunca foi um homem, mas uma ideia.

“Um homem pode morrer, lutar, falhar, até mesmo ser esquecido, mas sua ideia pode modificar o mundo mesmo depois de quatrocentos anos.”

Louis M. Leite nasceu na ilha São Francisco do Sul em fevereiro de 2007. Sua paixão pela literatura se iniciou ainda na infância, evoluindo para a escrita posteriormente, aos doze.

Familiarizado com o cinema e o teatro, pode ser encontrado na cidade de Jaraguá do Sul, em Santa Catarina, em eventos culturais e participando de projetos. Sempre está atrás de uma oficina de roteiro ou fotografia de cinema, não gosta de perder nenhuma oportunidade.

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