
Você sabia que o Brasil já teve um órgão público inteiramente dedicado à erva-mate?
Em plena era Vargas, quando o país buscava modernizar sua economia e controlar seus principais produtos de exportação, nasceu o Instituto Nacional do Mate (INM). Criado em 1938, o órgão tinha uma missão ambiciosa: salvar a economia ervateira que vivia em crise, centralizar decisões e recuperar um produto já esteve entre os 3 principais na exportação nacional.
O contexto que fez nascer o Instituto
No início do século XX, a erva-mate era um dos produtos mais importantes da economia brasileira, especialmente nos estados do Sul – mas também incluindo o sul de Mato Grosso. O Paraná, Santa Catarina e o Rio Grande do Sul formavam o núcleo dessa produção, com o Mato Grosso contribuindo com uma parte significativa da matéria-prima cancheada. O produto era exportado para a Argentina, o Uruguai e o Chile — os chamados “mercados tradicionais”.

Mas, na década de 1930, a situação mudou. A Argentina já produzia erva-mate na região de Misiones, reduzindo as importações do Brasil e impondo tarifas e restrições. Ao mesmo tempo, a crise de 1929 e as flutuações de preços abalaram o setor ervateiro. Os produtores brasileiros enfrentavam estoques encalhados, preços em queda e um mercado interno ainda pequeno e insuficiente para absorver a produção.
Foi nesse cenário que Getúlio Vargas decidiu agir. Inspirado em outros órgãos de controle criados pelo Estado Novo — como o Instituto do Açúcar e do Álcool (IAA) e o Instituto Nacional do Café (INC) —, o governo criou o Instituto Nacional do Mate (INM), uma autarquia com poder de coordenar toda a cadeia produtiva: da colheita ao comércio exterior.
A estrutura e os objetivos do INM
O INM foi concebido como um órgão técnico e regulador. Sua sede foi instalada no Rio de Janeiro, então capital federal, e contava com uma Junta Deliberativa composta por representantes do governo e das classes ervateiras — produtores, industriais e exportadores. Além da Junta, ainda contava com uma diretoria que se reunia de forma ordinária ou extraordinária.
O papel do INM era múltiplo: definir cotas de produção e exportação; fiscalizar a qualidade; estabelecer preços mínimos; incentivar cooperativas; e promover o mate no Brasil e no exterior, através de propaganda que deveria ser articulada de forma conjunta.
A criação do Instituto refletia a ideologia do Estado Novo: centralização, racionalização e controle. Acreditava-se que o problema da economia ervateira era a falta de mercado (ou a substituição e ampliação) e a desorganização ou falta de trabalho conjunto. O INM deveria corrigir falhas históricas — como, por exemplo, a má qualidade dos produtos, a ausência de padronização e a disputa entre diferentes estados produtores.


Livro Avaliação da erva-mate como biossorvente
Desafios iniciais e resistências
Apesar das boas intenções, o INM enfrentou resistências desde o início. Produtores reclamavam da burocracia e da falta de representatividade. As cooperativas, que vinham se organizando antes mesmo da criação do Instituto, se sentiram excluídas das decisões e mesmo de participação na produção e comércio. Já os industriais e exportadores tradicionais, mais próximos do poder central, acabaram exercendo maior influência – ao menos enquanto não tiveram a concorrência direta das cooperativas que se tornariam industriais e exportadoras também.
Além disso, o Instituto nasceu com problemas de financiamento. Suas receitas dependiam de taxas sobre exportações e de verbas federais que muitas vezes demoravam a ser liberadas ou nem saiam. Com o tempo, os recursos escassearam, dificultando programas de amparo aos produtores e campanhas de promoção. Essas limitações só se agravariam na década de 1960, já num contexto de crise brasileira e mesmo dos mercados compradores.
O INM até tentou promover avanços ao longo de seu trajeto: padronizar produtos, criar selos de qualidade, instituir políticas de preços mínimos e tentar organizar o cooperativismo. Mas sua ação não foi suficiente para aplacar uma nova fase crítica, que ficaria ainda pior quando a Argentina cortou de vez a compra de mate cancheado brasileiro em 1965.

Valeu a tentativa?
Ainda que tenha sido extinto em 1967, em plena Ditadura Militar, o Instituto Nacional do Mate representou um esforço pioneiro de política pública voltada para a erva-mate. Embora limitado, simbolizou a tentativa do Estado de integrar a economia ervateira ao projeto nacional-desenvolvimentista de Vargas; assim como uma tentativa de manter sua existência e a busca por soluções nos governos seguintes.
A partir de 1938, a história do mate no Brasil passou a estar diretamente ligada à trajetória do INM — com suas virtudes, contradições e promessas de modernização. Muita coisa se mostrou impossível ou teve resultados limitados, mas ainda assim deixa uma importante reflexão sobre a necessidade de ação conjunta e cooperação, que, aliás, serviriam de exemplo para o “ressurgimento” do mate a partir da década de 1980 e os avanços que viriam nas décadas seguintes. A economia ervateira de século XXI tem muito ainda que aprender com a trajetória do INM.
Referências
- José Antonio Fernandes. O Instituto Nacional do Mate e a economia ervateira brasileira (1938–1967). tese de Doutorado defendida na USP, 2019.
- Temístocles Linhares. História econômica do mate. Rio de Janeiro: José Olympio, 1969.
- Samuel Guimarães da Costa. Economia ervateira. Curitiba: Impressora Paranaense, 1958.

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