O Brasil tem empresas inclusivas?

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O preconceito e a discriminação contra minorias (negros, LGBTI+ e deficientes) são uma realidade em nosso país. Nesse sentido que devemos nos perguntar: o Brasil tem empresas inclusivas?

O quadro das empresas nacionais contam ampla participação de minorias (negros, LGBTI+ e deficientes)? De que forma as minorias que compõem essas empresas são tratadas? Quais os desafios a serem enfrentados para uma maior e melhor inclusão?

Antes de mais nada, devemos entender que o contexto geral do país é bastante diverso, que cada região e estado apresenta visões diferentes e nuances bem acentuadas quando se fala em inclusão social. Além disso, separando os grupos de diferentes minorias vemos que há, sim, diferenças importantes para negros, LGBTI+ e deficientes. Embora haja também fatores complicadores nisso tudo, como a existência de negros que sejam LGBTI+ e, possivelmente, também deficientes.

Mas, tomando o quadro mais geral, uma pesquisa da Plataforma Pulse mostra que minorias não chegam a 10% do quadro de colaboradores nas empresas. Além disso, apenas metade das companhias tem uma política de inclusão e diversidade amplamente divulgada.

Agravando a situação dos limites da inclusão, temos crimes contra minorias em ambiente de trabalho. Tomando apenas um caso, segundo dados divulgados pelo site Fórum Empresas LGBT, 65% dos profissionais LGBTI+ no Brasil já sofreram discriminação no trabalho, e 28% sofreram assédio. Isso ocorre especialmente com pessoas trans e bissexuais, sendo que os crimes de assédio, tanto morais como sexuais, em muitos casos tem a posição de subalternidade como pretesto para a ação dos agressores.

Da mesma forma, os crimes contra negros são amplamente conhecidos. A discriminação de cor é uma dura realidade herdada de séculos de escravidão e posterior não-inclusão dos libertos na sociedade brasileira. Como já é bem sabido, o racismo estrutural nos traz uma série de problemas e violações de direitos. O que se reflete ainda sobre a remuneração, que para negros é desigual. De acordo com o Observatório da Diversidade e da Igualdade de Oportunidades no Trabalho da Smartlab, plataforma conjunta da OIT com o Ministério Público do Trabalho (MPT), enquanto a média salarial de um homem branco, em 2017, foi de R$ 3,3 mil e a de uma mulher branca foi de R$ 2,6 mil, a de homens e mulheres negros foi de R$ 2,3 mil e R$ 1,8 mil, respectivamente. Também houve segregação ocupacional de negros em cargos de direção – estes compunham apenas 29% dos cargos.

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Claro que há alguns avanços ou pelo menos declaração de intenções por parte de algumas empresas no sentido de promover a diversidade em seu quadro. Por exemplo, a pesquisa Diversidade, Equidade e Inclusão nas Organizações (2024/2025), realizada pela Deloitte Brasil, mostrou que de 256 organizações participantes do levantamento, 93% das empresas possuem áreas ou práticas estabelecidas para DEI (diversidade, equidade e inclusão). Mas, a pesquisa da Plataforma Pulse também mostrou que, embora exista uma percepção de combate à discriminação e de práticas inclusivas, 50% dos colaboradores disseram não conhecer a política de diversidade e inclusão da organização.

Os desafios são grandes e a luta é ainda difícil. Além de abrir espaço com vagas de trabalho, as empresas precisam estar atentas à legislação, assim como deve haver estudos, conscientização e políticas para coibir práticas de discriminação e outros crimes contra trabalhadores. Racismo e preconceito contra outras minorias não devem ser tolerados, assim como deve haver seriedade no trato de outros tipos de violência, como o assédio. O caminho ainda é longo, só não se pode achar pretesto para não agir mais.

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