
Quando há uma soma de xenofobia e racismo em Portugal envolvendo crianças, isso é um sinal de que algo está muito errado.
A BBC noticiou que crianças tem sido vítimas de ações violentas de colegas na escola. Uma dessas crianças, de 9 anos, inclusive, perdeu dois dedos da mão após colegas prenderem sua mão numa porta. Se fosse um caso isolado, já seria grave, mas outros casos de agressão vem sendo registrados em escolas de Portugal.
Por si só o bullying já é algo reprovável, mas nesses casos, somam-se claros traços de xenofobia e também de racismo. Das 3 crianças registradas pela BBC, 2 eram negras. E nós estamos falando aqui só de crianças, sem mencionar os muitos casos envolvendo adultos.
Que os europeus vem há tempos reagindo negativamente à imigração para o Velho Continente, isso não chega a ser novidade. Basta olhar o caso francês e outros, onde a extrema direita vem pressionando para a criação e implantação de leis anti-imigração e de deportação. Em muitos casos parte-se da ideia de que os imigrantes “tomam emprego” da população nativa; o que se agrava em períodos de crise econômica.

Mas, a situação econômica de portugal atualmente não é exatamente de crise, embora haja instabilidade, o que é uma característica das economias europeis mais marginais (exemplo ainda de Espanha e Grécia). De qualquer forma, segundo dados do próprio governo, a economia de Portugal está em um período de crescimento positivo e estabilidade, com um crescimento do PIB de 1,9% em 2024 – crescimento que é maior que a média da zona do Euro, inclusive.
Nesse contexto, devemos dizer que a população brasileira em Portugal é de aproximadamente 513 mil pessoas, segundo dados do Itamaraty de 2023, sendo a maior comunidade estrangeira no país. Desses brasileiros, a esmagadora maioria está legalmente no país e contribui, sim, para o crescimento da economia.
Mas, se a economia está crescendo e os brasileiros estão no país legalmente, há justificativa (o que não há, de forma alguma) para o que aconteceu com essas crianças? Vejamos.
Mais uma vez, o bullying já seria condenável independente de nacionalidade ou outras características. Agora, há dois outros elementos aí: xenofobia e racismo.
Para quem não sabe xenofobia é a aversão ou medo do extrangeiro, como eu mostro em um vídeo do meu canal. Nesse caso, a aversão tem raízes de longa data, tendo se desenvolvido na base de uma “rivalidade” entre portugueses e brasileiros – o que inclui em diversos momentos diferentes formas de violências. Isso vem desde pelo menos a independência do Brasil e antes.

Livro Xenofobia: medo e rejeição ao estrangeiro
Já sobre o racismo, ele nada menos é que a herança nefasta da escravidão, que Portugal aboliu apenas em 1869 (e o Brasil em 1888). A abolição naquele país, como, aliás, é similar ao que ocorreu no Brasil, não trouxe uma integração do negro agora liberto na sociedade; no caso de portugal, a agravante seguiu sendo a proximidade com o continente africano, que traz sempre a “ameaça” de novas levas de imigrantes. Como se não bastasse, o racismo ainda hoje tem bases (ainda que maquiadas) numa ideia de superioridade europeia em relação ao resto do mundo.
Enfim, o que os casos com as crianças trazem à tona é a soma de problemas mal resolvidos ou jogados para debaixo do tapete. Para se ter uma ideia, uma das mães envolvidas chegou a procurar a direção da escola e denunciar a atitude, sendo reprimida pelos próprios pais dos agressores, que sugeriram que ela “voltasse para sua terra”. Os administradores das escolas e mesmo representantes do governo nem responderam à tentativa de explicações por parte da BBC.
Há nisso tudo uma necessidade de ações efetivas, tanto por parte do governo de Portugal, quanto do governo brasileiro. A legislação precisa ser respeitada, assim como novas medidas para coibir e conscientizar pais e alunos precisam ser postas em prática. Em pleno século XXI, fica claro que a humanidade não evolui de forma linear, superando seus velhos problemas. Atitudes deploráveis como essas nos mostram que podemos e vivemos retrocessos, sendo preciso estar sempre atento e ciente de que a luta continua…
Assista ao nosso vídeo sobre xenofobia

Livro Cinquenta tons de racismo: Mestiçagem e polarização racial no Brasil



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