
O filme Homem com H, sobre Ney Matogrosso, é um convite a encarar a ousadia que moldou a música brasileira.
Fazer uma resenha do filme Homem com H é um desafio. Existem muitos pontos a serem analisados, que compõe uma obra sincera e definitiva que busca retratar a trajetória do maravilhoso Ney Matogrosso.
A vida real dele é densa e carregada, trazendo um impacto cultural como poucos artistas, desafiando padrões estéticos e morais e criando um mundo em grande parte novo para a música brasileira. A originalidade de Ney Matogrosso é inquestionável. Numa sociedade marcada pelo preconceito, ele conseguiu romper barreiras e sobreviveu a investidas de conservadores defensores da “moral e dos bons costumes”.
É nesse contexto múltiple que aparece o filme Homem com H. Num momento em que somam-se memórias e revisita-se o passado de Ney Matogrosso, era, sem dúvida, um desafio para o diretor Esmir Filho retratá-lo no cinema e para Jesuíta Barbosa encarná-lo.

O diretor Esmir Filho “fez seu nome”, como costuma-se dizer por aí. Trabalhou minúcias, detalhou dramas e alegrias, criou um ambiente imersivo, mostrou realidades nuas (em todos os sentidos) e cruas. O enredo inclui temas como homossexualismo, liberação pessoal, resistência, ousadia e uma boa dose de contracultura.
Em muitos sentidos, o diretor criou um filme intimista, quando mostra relações familiares e amorosas (exemplo da relação que Ney Matogrosso teve com Cazuza); além dos dramas vividos e dos sucessos que foi acumulando.
Em outros sentidos, o filme Homem com H é provocador. Nisso contribuiu a maravilhosa atuação de Jesuíta Barbosa, ao “entrar no personagem”, “vestir a roupa” de Ney Matogrosso, se entregar ao papel de corpo e alma. O filme provoca a moral da época assim como a atual ao mostrar como o cantor desafio os “usos e costumes”, não aceitando menos em sua arte, vivendo intensamente na vida particular, até mesmo se arriscando em uma época em que surgia a AIDS. Isso o filme não esconde ou mascara.


O filme trabalha o tempo todo com a dualidade palco/vida pessoal, dois universos inseparáveis quando se fala em Ney Matogrosso. São mostradas cenas dos shows, assim como de bastidores, com a repercussão dada pela mídia sobre o jeito e os trejeitos dele. Mostra os dramas familiares e como foram sendo lidados ao longo dos anos, assim como a perda de Cazuza, que o abalou profundamente. Termina com um encontro entre o passado e o presente, a ficção e a realidade de um homem, um ser místico, que segue vivo e muito relevante.
Enfim, se você ainda não viu, saiba que o filme Homem com H é um ponto importante no cinema brasileiro e merece muito respeito. Mas, assista com a mente limpa e a alma leve.
Olha isso!

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