Esse nome (Guaicuru) ou Mbayá tem sido utilizado em larga escala para designar destreza e ferocidade, mais precisamente por “empresas” intelectuais, no sentido de fortalecer seu marketing.
Quase nunca se referindo a populações indígenas que habitavam na região do Chaco (grande planície sul americana) como é conhecido no território paraguaio. São poucos os estudos que atualmente estão sendo desenvolvidos sobre a história e etnografia das sociedades indígenas conhecida lingüisticamente como guaikuru. Além disso, o nosso conhecimento desses índios é muito inferior ao número dos trabalhos que deles tratam.
A escassez de estudos e a baixa no conhecimento sobre os Guaicuru ou (Guaikuru) indicam, evidentemente, que eles não ocupam na imaginação popular a mesma importância e o significado consignada a outros povos indígenas. Mas é também provável que indique a existência de uma certa ambigüidade nas imagens que deles se fazem.
Estudos mais recentes, bem como de relatos antigos comprovam que os Mbayá-Guaikuru mesmo conhecidos na história e na historiografia como índios cavaleiros, não se utilizaram somente deste meio de transporte. Sabe se ainda, que os Kadiwéu, grupo indígena muito conhecido por sua arte, descendem historicamente dos antigos Mbayá-Guaikuru.
Tais informações são tão valiosas para aqueles que procuram conhecer esse grupo com mais detalhes como seria para quem estivesse interessado em utilizar-se desse nome e da imagem do mesmo. Os nomes Guaikuru e Mbayá teriam sido usados por indígenas do Paraguai e escritores antigos. Segundo um estudo histórico e etnográfico do Dr. G. A. Colini “o nome guaicuru nunca indicou um grupo especial, mas foi sempre um nome coletivo dado pelos espanhóis a populações diversas”.
A bem da verdade, estes índios foram de fato guerreiros, sejam na guerra seja na paz, estavam sempre em guarda contra as surpresas. É possível inferir a representação feita por Guido Boggiani, artista e explorador italiano que esteve como observador dessa sociedade indígena no fim do século XIX. “Tinham guerras constantes com os espanhóis, mas também com outras nações de índios por quem eram muito temidos. Ao mais leve indício de um ataque pegavam com rapidez suas armas”.
Se todas essas imagens do Mbayá-Guaikuru traem um “hiato cultural” podemos então voltar agora para certas imagens mais recentes, que tem sido fortalecidas no espírito do público pelas atividades de muitos órgãos que poderiam ser chamados de “órgãos de opinião de mercado”.
É preciso admitir, ainda que a contragosto, que essa imagem do Guaikuru e do seu significado, quase sempre como guerreiro forte, armado com lanças e flechas e montado em um cavalo, não é inteiramente fantasiosa. Mesmo assim, na maioria dos casos, para uma certa aceitabilidade do público exige da aplicação de técnicas de “aparências”, o que para tanto, distorce, omite e desrespeitam a cultura e os estudos realizados sobre essa sociedade indígena. Entretanto, vale acrescentar que isto não é tão difícil de fazer quanto possa parecer a algum principiante, uma vez que toda essa aparência seja bem conhecida pelos interessados.
Diante de tudo isso uma questão parece estar clara: a imagem e o nome dos índios guaikuru são utilizados muitas vezes com uma ilustração imaginária que nunca existiu. No entanto, ao analisar, relacionar e concatenar as diferentes concepções entende-se que sob o ponto de vista ético é onde se concentra o maior embate. O leitor erraria se julgasse que lhe estamos apresentando a imagem de uma sociedade na qual todos a utilizam com espírito comercial. Pelo contrário, são geralmente irrefletidos, não planejados. Enquanto isso, a cultura, os valores e a própria história de uma sociedade continuam a ser desconsiderada em plena luz do dia.
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* Mestre em História pela Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD).
** Postado originalmente em 3/out/07.
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