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Moacir Fagundes. Foto de Alan Jara.

Na minha última
postagem sobre as “histórias de vida” do antigo sul de Mato Grosso, no
movimento da chamada Marcha para Oeste,
conhecemos um pouco do senhor Urbano
Braulino
, um dos “colonos ervateiros” da história da Colônia Agrícola
Nacional de Dourados (CAND). Hoje, como já havia anunciado, quero
apresentar-lhes o senhor Moacir de Souza
Fagundes
, o filho de Antonio
Fagundes
.

Hoje viúvo e
aposentado, morando em uma casa simples e empoeirada, Moacir de Souza Fagundes nasceu em Paraguaçu Paulista, no estado de
São Paulo, em 1937. Em 1948, com o pai e o restante da família, veio em um
caminhão Ford próprio, inicialmente para a região de “Vila Sapo”, em Vila Brasil, do lado da Primeira Zona
da Colônia, “quando ainda não existia o lado de cá”, da Segunda Zona, onde o
pai conseguiu lotes para algumas de suas irmãs. Dali, adentrando a Segunda Zona,
o pai conseguiu-lhe um lote na Estrada do Caraguatá, na altura da região de Vila Jateí, para onde se mudou por
volta de 1950, vindo depois para a área urbana da hoje cidade de Jateí, onde
mora até hoje (ele não fez menção a possíveis mudanças nesse meio tempo).
Homem de pouco
estudo formal, Moacir fez apenas o primário em escola pública, tendo depois feito
alguns outros cursos técnicos, “quase tudo por fora, sabe? Com o Instituto
Universal Brasileiro, lá de São Paulo, eu fiz uns quatro cursos”: português,
contabilidade, contabilidade prática; fez administração com o IBAM (Instituto
Brasileiro de Administração Municipal), de Brasília; fez curso “Família Feliz”.
Ainda assim, como muitos outros “professores leigos” que o Brasil já teve (e
provavelmente ainda tenha), ele teria sido um dos primeiros professores do
primário de Jateí. O pai teria construído a primeira escolhinha da cidade, onde
ele e uma senhora chamada Iraci Paula da
Silva
lecionaram – ele por “quase quatro anos”.
O caso do senhor Moacir Fagundes é bem curioso, pois o
mesmo se tornaria anos depois, o primeiro prefeito do município de Jateí (de 2
de maio de 1965 a 31 de janeiro de 1967), quando da emancipação do pequeno
município. Foi interessante ouvi-lo sobre sua experiência como prefeito. Sua
entrevista nos deixou um tanto intrigados (Eudes Fernando, Alan Jara e eu),
tendo em vista suas afirmações e a forma saudosista como se expressava, se
referindo com frequência à mencionada época, denotando tristeza pelo fato de
ter tido “pouco apoio político”. Além disso, se queixou das ações dos
concorrentes, “um pessoal de muita inteligência e um pessoal que num tem ética”.
Assim ele seguiu seu relato, voltando em alguns momentos da entrevista para
lembrar a sua situação precária atual, o fato de não ter tido apoio político e
ter sido levado a abandonar a política.
Mas, como o assunto que
mais me interessava na ocasião da entrevista era o fato dele ter trabalhado,
juntamente com um irmão, Pedro de Souza
Fagundes
, na produção direta de erva-mate, acabei por limitar um pouco a
conversa, que, aliás, foi bastante interessante. De qualquer forma, tendo em
vista a experiência do senhor Moacir,
gostaria de deixar algumas sugestões de temas de estudo e questões para quem tiver
interesse na história regional
sul-mato-grossense
.
Sobre isso, um tema
que me chama atenção é o que diz respeito às relações políticas nos municípios que foram se emancipando da Colônia
Agrícola Nacional de Dourados
(CAND).
Pelo menos do que conheço e sem querer ser muito detalhista aqui*, me parece que alguns pontos da
região da Grande Dourados foram pouco
explorados por historiadores. O município de Dourados em si recebeu e recebe
mais atenção, por ser o centro de convergência de muitos dos colonos, ao menos
nas questões econômicas e mesmo políticas durante a existência da CAND, mas as
cidades e vilas da região ainda parecem historicamente pouco compreendidas –
não incluo na lista os memorialistas, que tem sua grande contribuição, mas não tem
as mesmas preocupações dos historiadores.
Daí também me vem à
mente algumas questões: quais as relações políticas dessas cidades
“periféricas” com o município de Dourados? Como os partidos políticos se
relacionavam fora do “alcance” desse último município? Sabe-se que partidos de
esquerda agiram na época da CAND, como o caso do Partido Trabalhista Brasileiro
(PTB), inclusive com muitas denúncias de movimentos “comunistas” por parte dos
administradores, mas e quando estas pequenas cidades foram ganhando sua
autonomia, como ocorreu sua transformação política?
Logo mais postarei a
segunda parte da entrevista do senhor Moacir
Fagundes
, desta vez especificamente sobre a produção de erva-mate, um dos meus
temas de estudo.


*Tendo em vista a
limitação dessa postagem e levando em conta, claro, que não foi objetivo dar
conta de toda produção bibliográfica relacionada, apenas um panorama do que este
que vos escreve conhece, algo pode (e de fato deve) ter ficado de fora. Nesse
sentido, fique a vontade, se desejar, para fazer comentários e acréscimos.

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