Eleições para nunca esquecer…

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As eleições finalmente chegaram e os resultados também. Os candidatos eleitos estão comemorando e os derrotados so restam o consolo. Muitas pesquisas se confirmaram e outras não. O resultados das urnas é de fato o verdadeiro resultado, e o papel da imprensa é divulga-los com exatidão, certo? Nem sempre. Em outubro de 2004, uma pequena cidade do interior de São Paulo chamada Buritama, onde eu morei, testemunhou algo inédito que jamais será esquecido por todos habitantes durante muitos anos. No dia 03 de outubro daquele ano, eu estava trabalhando na única emissora de rádio da cidade. Era dia de eleições, e o clima estava tenso entre três candidatos a prefeito. Os candidatos eram Rosa Tereza, do PT, Izair Teixeira, do PSDB e Messias Ferreira Mendes, do PTB. Segundo as pesquisas, a disputa estava acirrada entre os candidatos do PTB e do PSDB. A disputa estava intensa em um municipio de dez mil eleitores.
A votação durante o dia pareceu tranquila, e toda a população estava aflita para saber quem seria o novo prefeito eleito da cidade. Era um dia com chuva e muita expectativa. Nossa equipe da rádio estava fazendo a cobertura completa das eleições. Quando o relógio marcou 17 horas, horário de Brásilia, nós começamos a receber direto das zonas eleitorais os resultados de cada urna apurada. A população inteira começou a deixar o som do rádio na altura máxima em todos os lugares para conferir os resultados que estavamos divulgando ao vivo. Assim, cada seção era anunciada ao vivo por nossa equipe de rádio. Em quanto isso em nossos estudios, o locutor que comandava a transmissão, divulgava ao vivo a soma de todos os resultados. Ele era auxiliado pela secretária da emissora que com uma calculadora somava todos os resultados e passava para ele todas as anotações das apurações que anunciavamos.
Depois de anunciarmos as apurações de todas as urnas eletrônicas, a secretária calculou os resultados e passou a soma total dos votos para o locutor. Este, convicto nas somas dos resultados de sua secretária, anunciou a vitória de Izair Teixeira do PSDB como novo prefeito de Buritama. Na mesma hora, eu e meu colega que estava me auxiliando na transmissão em frente ao colégio eleitoral de onde estavamos, fomos correndo para a rádio para concluirmos a transmissão. Antes de chegarmos à emissora, passamos em frente a casa do candidato derrotato, Messias Ferreira Mendes, que tinha uma presença marcante de inúmeros cabos eleitorais a seu favor. Olhamos para todos eles e vimos seus gestos de desconsolo e tristeza pela derrota. Quando chegamos na emissora, um vereador da cidade havia ligado dizendo que o resultado divulgado pela rádio estava invertido, e que o candidato eleito era Messias Ferreira Mendes. Nesse momento, um cabo eleitoral do então candidato, tentou invadir a rádio e queria tocar fogo na mesma. Nós ficamos apavorados e o locutor da rádio que comandava a transmissão, chamou a polícia ao vivo. Em dois minutos um camburão da policia chegou em frente a rádio para nos ajudar, mas o cabo eleitoral havia fugido. Enquanto isso, os eleitores de Izair Teixeira vibravam nas ruas e erguiam com orgulho o novo prefeito eleito, segundo o que a rádio divulgou. De repente, um enorme grupo de eleitores de Messias Ferreira Mendes atravessou o grupo que erguia Izair e começavam a comemorar a vitória de seu candidato. Os eleitores de Izair, não entenderam nada do que estava acontecendo. Foi então que ao ligar o rádio novamente, eles escutaram que nossa equipe havia divulgado o resultado errado e que o verdadeiro vencedor era Messias Ferreira Mendes. No mesmo instante todos os eleitores de Izair sumiram das ruas. Uma mulher chegou a desmaiar. O clima ficou tenso, mas não aconteceu nada de grave. No fim, os eleitores de Messias Ferreira Mendes comemoraram a vitória de seu candidato.
Depois do ocorrido, ficamos tão tensos, que nem sequer fizemos questão de divulgar as apurações dos vereadores eleitos. Só divulgamos os mesmos, com o resultado final nas mãos. Depois de tudo que aconteceu, a secretária confessou que sem querer errou na hora de fazer as contas. O fato é que o acontecido deixou a cidade com os nervos a flor da pele. E ai que imaginamos o poder que a imprensa tem sobre nós tanto positivamente como negativamente. Passados quatro anos, a mesma emissora de rádio fez a cobertura das eleições deste ano. E para não cometer erros, divulgou cautelosamente e sem pressa o resultado final. E desta vez, acertou. Nos cinco anos em que morei em Buritama, aquele 03 de outubro de 2004, foi o dia mais marcante da minha vida naquela cidade. Para os habitantes da mesma, algo que jamais será esquecido na sua história.

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  1. Avatar de Jaque... Fachiano

    Esse episódio presenciado por Luiz Eduardo faz lembrar as eleições deste ano, na cidade de Deodápolis no Mato Grosso do Sul. A principal rádio da cidade, que divulgava em ‘primeiríssima mão’ o resultado das eleições se precipitou e divulgou a vitória por 80 votos da candidata Maria Viana do PT, porém faltava a apuração de uma das urnas, na qual o candidato Manoel Martins do PSDB saiu na frente com a diferença de 161 votos. Quando o resultado final foi divulgado junto com um pedido de desculpas da rádio, os companheiros partidários da candidata do PT estavam em pleno centro da cidade em carreata, apenas souberam da derrota quando teve inicio a carreata da coligação do PSDB. Esses episódios nos mostra como a necessidade de informar os ouvintes em ‘primeira mão’, por parte de emissoras de rádio e televisão, faz com que surjam informações precipitadas e acabem como nesses dois casos gerando uma grande confusão.

  2. Avatar de José A. Fernandes

    Notamos como os políticos em pleno século XXI ainda encarnam a imagem de combatentes, onde não se pode admitir a derrota… é como quando um soldado chega de um acampamento distante anunciando o fim da guerra e a vitória, e todos recebem a notícia com alegria e festa… e enquanto comemoram, chega um outro e diz que a história é outra, e mostra os verdadeiros resultados, e que quem venceu a batalha (e a “guerra”) foi o adversário e não eles. O soldado anterior certamente vai ser execrado, afinal alimentou falsas esperanças nos “oficiais”, que nunca admitem a derrota.

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