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Durante os anos sombrios da Ditadura Militar, Chico Buarque se tornou muito mais do que um músico; ele se tornou um símbolo de resistência e um dos alvos principais da censura. Neste texto, vemos um pouco da sua trajetória e seu papel na luta política daquele período.

Considerado uma ameaça subversiva, sua arte desafiava a opressão imposta pelo regime, ecoando as vozes de muitos que ansiavam por liberdade.

Seu primeiro disco foi Chico Buarque de Hollanda, lançado em 1966 pela RGE, onde já apareciam, além de outras, as músicas: A banda, sucesso muito lembrado até hoje; Sonho de Carnaval, que fez parte do I Festival Nacional de Música Popular Brasileira, transmitida pela TV Excelsior; e Pedro Pedreiro, música fundamental para experimentação do modo como viria a trabalhar os versos, com rigoroso trabalho estilístico morfológico e politização, mais significativamente na década de 1970*.

Outros tantos viriam à seguir, além de livros, peças de teatro e coisas afins – somando-se ainda as composições de sucesso gravadas por tantos outros artistas da MPB. Em meio a isso surgiria o engajamento político, que lhe renderia perseguições e exílio. 

Chico Buarque e a perseguição na Ditadura Militar

Os interrogatórios por parte dos militares seriam uma constante na vida de Chico Buarque. Claro que não se deve excluir as ações dos diversos outros indivíduos ligados aos partidos de esquerda, aos movimentos estudantis, à música, à literatura e ao teatro, mas uma parada para pensar nas experiências do filho de Sérgio Buarque, o grande historiador, se faz válida. 

Após 1970, Chico Buarque se tornaria um dos alvos favoritos dos censores, sobretudo por gostar de comentar, sempre que lhe dessem oportunidade, sobre o sistema político vigente, e isso incomodava (e muito). Em entrevista à revista Marie Claire em 1999** ele disse:

“além das músicas censuradas, havia os shows proibidos, os shows com censores na platéia e no camarim. Não era Brincadeira”.

Por causa da perseguição, exilou-se na Itália em 1969, retornando em 1970. 

Trilha sonora da peça Calabar,  retirada de circulação pela censura dias após seu lançamento em 1973

Por volta de 1974, ele já tinha como época “mais branda”, quando adota então o pseudônimo “Julinho da Adelaide”. Era uma saída encontrada para burlar a censura da Ditadura. E é assim que consegue lançar Acorda amor, Jorge maravilha e Milagre brasileiro, quepassaram pela censura sem maiores problemas. 

Nesse contexto, nos fala a respeito das diferenças existentes entre os governos durante a Ditadura Militar:

Há que se distinguir um pouco a época do Médici da época do Geisel. Era ditadura sim, a tortura continuava, mataram o Vladimir Herzog, mas a gente já se sentia um pouquinho menos sufocado do que no tempo do Médici. Para que eu criasse o Julinho da Adelaide, para brincar com isso, certamente já havia um clima menos sufocante do que antes. No começo dos anos 70, não havia graça nenhuma.*** 

Em outra entrevista, essa à revista Caros Amigos, Chico Buarque comentou seu envolvimento com a política e a mistura da noção de arte com o engajamento político dos tempos de regime militar.

Ali ele faz uma distinção entre a ação de criação artística da música e o ato de apropriação da mesma pelos agentes sociais, dizendo que

“a gente cria um objeto de arte, a gente pode criar a partir dessa música uma utilidade prática, mas criar uma música pensando em sua finalidade objetiva me parece perigoso, empobrecedor mesmo”

Isso deve nos dizer algo sobre a diferença entre o compositor, o cantor e o homem Chico Buarque, algo bastante complexo para uma análise apressada. Ainda assim, o homem Chico Buarque vem sendo alvo de críticas por parte de grupos que querem invalidar as ações dele e outros tantos artistas em épocas passadas, com base nas suas ações recentes – especialmente no que diz respeito à questão dos direitos de imagem e de biografias não autorizadas

Trilha sonora da peça Ópera do malandro

O artista engajado

Mas, seguindo especificamente os passos do artista politicamente engajado, quando perguntado especificamente sobre a ação política e o fato de ser um dos artistas brasileiros mais censurados, em entrevista à Folha de São Paulo, em 1998, Chico Buarque disse que foi atuante e falava muito, mas segundo ele, o quadro mudou, porque “foi chegando a hora de ser mais artista e menos político.

O fim das ditaduras e a queda do Muro de Berlim já eram sinais de que se encerrava esse conflito e se despolitizava o mundo. A função política do artista se enfraqueceu”****.

Mas antes desse desfecho, poderíamos inserir a música Apesar de você, apontada como o motivo do nascimento de Juninho da Adelaide e dela tirar algo mais do assunto. Mas isso fica para a próxima postagem!

Livro Para Seguir Minha Jornada

FONTES:

http://pt.wikipedia.org/wiki/Chico_Buarque_de_Hollanda_(%C3%A1lbum)

** Entrevista à Revista Marie Claire, em julho de 1999.

*** Entrevista à Revista Caros Amigos, em dezembro de 1998.

**** Entrevista à Folha de São Paulo, em 1998.

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