Ele é ao mesmo tempo historiador e arqueólogo, estudioso do universo cultural, com dedicação especial aos temas que envolvem Grécia e Roma Antigas!
Paul Marie Veyne nasceu em Aix-en-Provence, França, no dia 13 de junho de 1930. Desde os oito anos já se interessava por arqueologia, mais especialmente do Império Romano, depois de encontrar uma ânfora em um sítio celta e visitar museus da área. À arqueologia somou-se “naturalmente” a História e à história de Roma Antiga se somou a da Grécia.
Mas, algo interessante é que, ainda nos tempos de estudos, quando foi morar em Paris para fazer a Escola Normal Superior (1951 a 1955), ele aderiu ao Partido Comunista Francês. No entanto, essa ligação não duraria, abandonando ele esse partido alguns anos depois.
Após terminar a Escola Normal Superior, entre os anos de 1955 a 1957, ele foi membro da Escola Francesa de Roma. Chegou a lecionar na Sorbonne e logo em seguida transferiu-se para Aix-en-Provence, onde passou a lecionar na Universidade da Provença, onde ficou até 1975, ano em que se transferiu para o Collège de France, onde foi titular da cadeira de História Romana até 1998.
Mas, foi durante o período em que esteve na Universidade de Provença, mais exatamente no ano de 1970, que ele se tornou famoso ao lançar o livro Como Se Escreve a História?
Nesse livro denso, um ensaio de epistemologia que dialoga com a área de teoria e historiografia francesa, ele se contrapõe à tendência à quantificação que predominava no cenário historiográfico francês até os anos 1970. Nesse livro que ele diz que a História não passa de um “conto verdadeiro” e o objeto de estudo do historiador um recorte pessoal, sendo, portanto, muito difícil enquadrar a História como ciência. Para Paul Veyne, a História lida com o caos, é uma forma de estudar a singularidade do fato, entendido como algo que não se repete.
Foi com esse livro que Paul Veyne surgiu como um dos predecessores do modelo narrativista de reflexão sobre a ciência histórica, modelo esse que se afirmaria sobretudo depois da publicação de Meta-história, de Hayden White, em 1973. O que Paul Veyne faz nesse livro, entre outras coisas, é se direcionar aos historiadores que se dedicavam à análise quantitativa, aqueles “deterministas” e “economicistas”. É assim que deixa explicitar-se nele o seu “antimarxismo”, fazendo críticas sobretudo aos “marxistas ortodoxos” e o fato desses trabalharem com a análise quantitativa e se esquecerem do universo da cultura.
Nesse sentido, é interessante que muitas de suas ideias sejam semelhantes às de E.P. Thompson. Esse último não era ortodoxo, mas era marxista. Ainda assim, como diz a professora Ana Alaniz, “é interessante como eles se assemelham na hora de recortar os objetos de estudos; como eles se assemelham na hora de recortar o fato; como é que se constrói o fato; qual é a importância da historicidade”.
E se me permitem insistir no mesmo livro, há até mesmo espaço para uma parte que recebeu o título de Foucault Revoluciona a História. Foucault é um dos grandes intelectuais franceses que atuaram nos anos 1960 e 1970, que deixou uma produção vasta e rica, com o qual Paul Veyne tinha grande amizade e afinidade de pensamentos. Não é menos interessante que, em 2008, o mesmo Michel Foucault ganharia um livro só para ele de autoria do mesmo Paul Veyne, onde se tratou de “seu pensamento e de sua pessoa”. Esse livro é o resultado do convívio com o filósofo, o que configura uma originalidade e riqueza únicas, tendo Paul Veyne procurado expor com rigor os diferentes conceitos foucaultianos – episteme, dispositivo, discurso, saber e poder –, pois os descreve como um leitor que pôde metabolizar devidamente tudo aquilo que Foucault deixou como herança em seus livros, ensaios, conferências, cursos e entrevistas.
Em geral, com Paul Veyne, assim como outros que fizeram parte ou “beberam” da Nova História, o elemento cultural entra como componente principal para compreensão das sociedades e não apenas o econômico, o social ou o político. Esse mesmo cultural – assim como o cotidiano, as mentalidades e as jornadas de longa duração – está presente em seus textos sobre Grécia e Roma Antigas. É assim com os seus mais famosos, tais como, por exemplo: O Pão e o Circo, talvez o mais importante deles, em que procura questionar certo discurso historiográfico monolítico e propõe e explora novas possibilidades interpretativas para a política e a economia na Antiguidade greco-romana; o livro Os Gregos Acreditavam em Seus Mitos?, em que questiona o que seria um “mito” e o que seria a “verdade”, procurando mostrar que o sentimento da verdade é muito amplo (abrangendo facilmente o mito), que “verdade quer dizer muitas coisas” e que pode até abranger a literatura de ficção; ainda tem o livro Elegia Erótica Romana, Sexo e Poder em Roma, onde ele recria Catulo, Propércio, Tibulo, Ovídio, goliardos da Antiguidade clássica, estabelecendo o vínculo crítico em que o amor e a poesia produzem uma estilização da vida cotidiana e a revestem de brilho e intensidade; e, afinal, há ainda a sua parte na coleção História da Vida Privada, no volume 1, que cobre um período de cerca de oito séculos – do declínio do Império Romano à Alta Idade Média ocidental e à Bizâncio dos séculos X e XI -, reunindo ensaios que examinam a vida cotidiana de cidadãos e escravos, senhores e servos – sua sexualidade, o casamento, a família, as diversas formas de moradia, as atitudes religiosas e as práticas funerárias -, compondo um quadro dos comportamentos individuais e sociais no período abordado.
Bom, por enquanto é isso. Caso queira saber mais sobre ele, existem palestras e mesmo entrevistas (essas em francês). Existe também a opção em livros, como o Nova História, organizado por Fernando Novais e Rogério Forastieri da Silva, que insere Paul Veyne no universo dos Annales. Outros livros do mesmo tipo, de “inserir o autor no contexto”, são o As Escolas Históricas, de Guy Bourdé e Hervé Martin, e o A Escola dos Annales, de Peter Burke. Especificamente sobre ele e seu modo de fazer história, existe o livro Enredos de Clio: Pensar e Escrever a História com Paul Veyne, de Helio Rebello Cardoso Jr.. Além, claro, dos livros do próprio autor, cuja lista segue abaixo.
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