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Qual
a primeira coisa que lhe vem à cabeça ao ler a palavra “Devassa”? Com certeza,
alguns pensarão na marca de cerveja que
leva esse nome. Mas, o que mais significaria?



Como não relacionar a cerveja “Devassa” às declarações polêmicas
da cantora Sandy, não despropositalmente a garota propaganda da marca (que,
antes dela, teria como modelo a socialyte
e pretensa atriz Paris Hilton, famosa por deixar “vazar” na Internet vídeos de
cunho pornográfico)? Outras pessoas, em sua maioria mulheres, ficariam
insultadas se fossem chamadas assim,
afinal, a palavra devassa remete à devassidão,
promiscuidade, etc.

Porém, que tal darmos uma olhada no
dicionário? No Dicionário Aurélio on-line, a palavra devassa tem o seguinte
significado: Pesquisa de provas e
inquirição de testemunhas para averiguação de um fato criminoso ou presumido
como tal; sindicância. / Os autos ou processos de que constam essas pesquisas;
sumário. / P. ext. Exploração; procura minuciosa; pesquisa
. Não posso
precisar em qual momento histórico ou por qual motivo se atribuíram novos
significados a essa palavra. O que se há de pensar é o porquê de não se usar
mais o significado original da mesma.


A palavra devassa é utilizada desde o
período colonial e nos remete ao verbo devassar, pesquisar, inquirir. É
possível encontrar referências a ela em grande parte da documentação oficial
produzida pelos oficiais de justiça existentes daquele período, cujos nomes
também não nos fazem muito sentido hoje em dia: juiz de fora, ouvidor, juiz
ordinário, entre outros. As obrigações desses juízes assemelhavam-se às dos
agentes de justiça atuais: fiscalizar as ações da população local, e julgar os
crimes que aconteciam. Quando a denúncia do crime era feita, cabia ao juiz em
questão e seu escrivão recolher os depoimentos das partes envolvidas, ação essa
chamada de Devassa. Ou seja, a devassa nada mais era que uma espécie de
investigação policial acerca de um crime. Após realizada a devassa cabia então,
ao juiz, decidir qual seria a pena dada ao individuo – ou indivíduos –
considerados culpados.


Um exemplo clássico de devassa foi a
realizada após a Conjuração Mineira, de 1789, que culminou na morte de
Tiradentes. Os inúmeros calhamaços de folhas que resultaram da investigação são
fontes até hoje usadas na escrita da historia do período. Uma das obras mais
importantes é da autoria de Kenneth Maxwell, com o singelo nome de “A devassa
da devassa: A inconfidência mineira – Brasil/Portugal [1750-1808]”, e é um
clássico da historiografia brasilianista da década de 1970.



Sandy e a cerveja Devassa


* Doutor em História pela Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD).


Dica de livro:
 o livro de tiradentes
Kenneth Maxwell (Org.)
 Clique aqui!



** Originalmente postado em 26/dez/2012.


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