
Darcy Ribeiro é atual e necessário, um visionário realista, que sonhava com um Brasil maior e melhor. É por isso que ele é o tema desse texto.
Darcy Ribeiro nasceu em 1922 e partiu em 1997. Entre esses dois anos, coube uma vida inteira de lutas, ideias, utopias e amor pelo Brasil. Como ele próprio afirmava, Darcy Ribeiro foi um “homem de causas”, movido por ideais que iam muito além das palavras e se transformaram em verdadeiras bandeiras de luta.
Entre elas estavam a salvação dos povos indígenas, cuja cultura e sobrevivência considerava fundamentais para a identidade nacional; a escolarização das crianças, vista como caminho para emancipar o povo; a reforma agrária, necessária para corrigir as desigualdades históricas do campo; e a criação de uma universidade necessária, voltada à formação crítica e comprometida com o desenvolvimento do Brasil.
Um Brasil mestiço e de todos
Darcy tinha zelo pela unidade nacional e um profundo orgulho pela nossa identidade de povo, forjada pela mestiçagem da carne e do espírito. Via o Brasil como uma grande experiência humana — uma mistura viva, pulsante e única no mundo.
Queria ver nascer uma sociedade democrática, onde o direito e a justiça fossem acessíveis a todos. Por isso, entre outras coisas, defendia a democratização da terra — o direito de plantar, viver e florescer nela. Sonhava com uma economia industrial autônoma, capaz de colocar o país entre as nações desenvolvidas.
Daí se inserirem suas pesquisas diretas com povos indígenas, dos quais resultaram belos trabalhos etnográficos e antropológicos. É o caso dos livros Utopia Selvagem e o clássico Diários Índios.
Assim como também uma análise profunda do que é ser brasileiro, povo construído entre conflitos e conciliações.
O povo no centro
Tudo o que dizia respeito ao ser humano despertava seu interesse: suas vidas, lutas e criações. Mas entre todos os humanos, era o povo brasileiro e seu destino que mais o mobilizava. Falava com ternura dos povos indígenas, sobreviventes milagrosos de séculos de conflitos, explorações e resistência. Mesmo assim, não esquecia a contribuição do negro para a formação do povo brasileiro.
Darcy via esperança na massa mestiça, ainda em formação, que, segundo suas palavras:
“Esforça-se para florescer numa civilização tropical, mestiça e alegre.”

Fracassos e vitórias
Darcy não se via como um vencedor — mas como alguém que lutou, que pelo menos tentou. E é nessa luta que está seu verdadeiro legado.
“Somei mais fracassos que vitórias em minhas lutas, mas isto não importa.
Horrível seria ter ficado ao lado dos que nos venceram nessas batalhas.”
Nisso que temos suas ações para construção do ensino básico e o universitário. Exemplo da criação da Universidade de Brasil ou dos Centros Integrados de Educação Pública (CIEPs), idealizados quando trabalhou com Leonel Brizola.

Fachada de uma unidade do CIEPS
Um Brasil ainda em construção
Para Darcy, o Brasil nasceu para servir ao mercado internacional — e, infelizmente, continua preso a esse destino. Somos um país dependente, cuja construção sempre esteve ligada a um país dominador – Portugual, Inglaterra, Estados Unidos…
Mas sua visão não era de desespero, e sim de esperança ativa: a certeza de que o país ainda pode se reinventar, encontrar seu caminho e cumprir sua vocação humana, mestiça e solidária. Para isso precisa encontrar seu caminho, corrigir suas falhas, se livrar de amarras. O Brasil que Darcy sonhava não era o da falsa “democracia racial” de Gilberto Freyre, mas sim um Brasil real, que reconhece seus defeitos, se corrige e se refaz.
Foi nesse sentido que militou, como pesquisador, como político e como brasileiro.



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