A concepção de guerra, permeia a vida do ser humano desde a formação das primeiras comunidades. Sua justificativa é variada e se adapta a momentos da história, bem como a questões políticas específicas. Quando falamos de guerra, tendemos a destacar autores variados, alguns, como France, Hobbes e Maistre, pensam a guerra como inerte a natureza do ser humano; já outros, como Ortega y Gasset e Creveld, analisam a guerra como um fenômeno múltiplo, variando de acordo com o contexto histórico e justificativa.
É complexo comparar a ideia de guerra com os animais ou algo inerte, já que não podemos dizer com certeza que todos os povos sempre guerreavam. O que podemos destacar é que a guerra ocorre quando existe uma barreira dialogal, que quando não vencida, terá que ser destruída a força e com violência. Uma das ideias mais interessantes sobre a guerra é a de Creveld, quando diz que “em teoria, a guerra é simplesmente um meio para um fim, uma atividade intencional para servir os interesses de um grupo de pessoas que irá, matar, machucar, ou incapacitar o grupo oposto.” (CREVELD, 2008, p. 411).
Podemos então dizer, que a guerra faz parte da História dos seres humanos e que, sem ela, muitas modificações tecnológicas não seriam descobertas e/ou feitas. O que é irônico na guerra é sua capacidade de avançar questões sociais, políticas e tecnológicas por meio da violência e morte de outros. É como se, para ver o horizonte, fosse necessário criar uma pilha de corpos. Nesse sentido, para conseguir vantagens, ou domínios, culturais, econômicos e políticos, o uso da guerra e de um inimigo é posto como necessário.
Como exemplo da guerra em meios aos interesses políticos e econômicos, temos a Guerra do Iraque (2003 – 2011). Dizimando um número relativamente grande de pessoas, os interesses por traz da guerra, como sustenta Manuel Cambeses, são questionáveis. Por traz de uma política do medo, os EUA convenceram muitas pessoas que estavam em uma “guerra contra o terrorismo”. Enquanto o discurso é apresentado como uma “luta contra o inimigo iminente”, as fontes apresentam razões exclusivamente econômicas, envolvendo o comércio de petróleo e a perca de controle do falecido ditador Saddam Hussein.
Atualmente, a forma mais coerente que encontro de estudar a Guerra do Iraque (2003 – 2011), é analisar a perspectiva dos perdedores e entender como foi a recepção dos iraquianos ao recepcionar a guerra. A população local poderia informar sobre o Iraque pré e pós guerra, bem como as ações dos militares estadunidenses em território iraquiano. Como Slavoj Zizek disserta em seu livro “Violência”, muitas vezes um país formula a ideia de um inimigo e convence os outros que ele deve ser combatido. Compreendendo o lado dos perdedores, poderemos ter uma perspectiva mais ampla do conflito, indo além apenas da ideia praticamente “naturalizada” das justificativas norte-americanas.
Consideramos importante avaliar as múltiplas definições do conceito “guerra”, bem como analisar que o estudo de um conflito, aqui exemplificado como a Guerra do Iraque (2003 – 2011), deve ser pautado sempre em duas perspectivas, levando em conta que mesmo o lado perdedor também tem algo a dizer.
** Originalmente postado em 26/dez/2012.
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