O professor Ozório Alceu Felini, 45 anos, morreu em função de facadas desferidas oito dias antes por um aluno da escola onde atuava, em Vacaria. A morte reavivou uma dúvida que está na cabeça de cada brasileiro que atua com educação: até onde irá a violência nas escolas? Sim, porque a tragédia de Vacaria está longe de ser um episódio isolado.
O educador tentava apartar uma briga entre duas alunas quando foi esfaqueado supostamente por um rapaz de 18 anos, estudante do 1º ano do Ensino Médio. O incidente aconteceu dia 17, na Escola Técnica Estadual Bernardina Rodrigues Padilha (que funciona em prédio de antigo Ciep). Felini se recuperou parcialmente dos ferimentos e chegou até a falar sobre a agressão sofrida.
– Não entendi por que o rapaz fez aquilo. A maioria dos estudantes dessa escola é formada de jovens bons, de famílias trabalhadoras. Apenas um pequeno percentual arruma problemas – declarou na ocasião, em entrevista ao jornal Pioneiro, de Caxias do Sul.
Na terça-feira passada, Felini sofreu uma recaída, com infecção. Ontem, ele não resistiu. A morte comoveu o Estado. Os mais de mil professores de Vacaria ameaçam suspender as aulas esta semana. Na escola onde aconteceu o crime, os funcionários decidiram fechar as portas até amanhã.
Nem a prisão do suposto agressor de Felini – que nega participação no crime – acalmou os colegas do educador assassinado. Eles pretendem fazer uma caminhada pelas ruas de Vacaria e parar em frente a órgãos de segurança do município, como Polícia Civil, e do Fórum. Segundo a professora Cassiane Vieira, 29 anos, o protesto espera a adesão das outras 10 escolas estaduais da cidade.
Nos últimos cinco anos, pelo menos cinco professores gaúchos sofreram fraturas ou ferimentos graves provocados por alunos. Foram feridos ao apartar brigas – como Felini – ou em represália dos estudantes as tentativas de botar ordem na aula.
O levantamento deixa de fora a violência entre os estudantes, de tão cotidiana que é. Ela deixou, no ano passado, praticamente cega de um olho uma aluna da mesma escola onde o professor Felini foi ferido de morte.
Indisciplina é uma das maiores preocupações, segundo pesquisa
Uma pesquisa divulgada este ano pelo Ministério da Educação (MEC) relata que os problemas disciplinares apresentados pelos alunos são o segundo pior dilema diagnosticado pelas escolas de Ensino Fundamental. Perde somente para a insuficiência de recursos financeiros. Nada menos do que 64% dos diretores de colégios estaduais pesquisados pelo ministério, 53% dos municipais e 46% dos privados relataram que a indisciplina é uma das suas maiores fontes de preocupação.
Especializada em violência, a psicóloga e psicanalista gaúcha Mari Gleide Maccari Soares diz que o grande fantasma nos colégios até uma década atrás era a droga. Agora é a violência, muitas vezes causada pelo uso de entorpecentes.
A caminho do velório de Felini, a presidente do Cpers-Sindicato (que congrega professores estaduais), Simone Goldschmidt, reconheceu a Zero Hora que inexistem no Estado levantamentos sobre violência contra trabalhadores das escolas.
– É hora de fazermos isso. E também de o país ter políticas públicas de investimento nas pessoas vulneráveis ao crime, sejam elas vítimas ou autores em potencial. Temos de reavivar hábitos e valores saudáveis, do contrário teremos mais episódios lamentáveis como esse de Vacaria, que estão se tornando banais.
Mari Gleide e Simone comungam numa certeza: a autoridade do professor tem de ser restaurada na escola. Mais com diálogo do que com repressão, mas o sagrado direito de comandar a aula deve voltar a imperar. Resta saber como fazer isso antes que novas mortes voltem a manchar a já violenta rotina das escolas gaúchas.
Sei que a notícia é realmente muito triste, mas devemos entrar em contato com todos estes exemplos, para que possamos tentar fazer o melhor em nossa valorosa profissão de educador, tentando contribuir da melhor maneira para que esta situação tenha um fim e a educação em sala de aula tenha um futuro melhor.
Deixe um comentário