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Certamente você já se deparou com a famosa expressão: “Uma das poucas certezas que temos na vida é a morte.” A noção da nossa própria finitude exerce um poderoso fascínio, evocando emoções que oscilam entre o medo e a curiosidade profunda. Esse é o tema desse post que fala de histórias, lendas, ficção e vida real.

Chega a ser estranho o fascínio de muita gente com a morte. É só vermos os “fãs” de conteúdos relacionados à serial killers e de filmes de terror. 
Eu mesmo me pego vendo documentários sobre caras como Jeffrey Dahmer, Ted Bundy e Charles Manson. Fora os filmes que ganham continuações e enxem salas de cinema ou multiplicam as visualizações em plataformas de streaming. Só pra ficarmos em alguns exemplos, podemos lembrar de  Jason, Fred Krueger, A Freira, Invocação do Mal…. 

Jason

Mas não são só os filmes. Existem ainda os seriados, como Walking Dead (pelo menos nas primeiras temporadas) e Sobrenatural, o queridinho de muitos jovens e adolescentes dos anos 2000. Ou ainda o envolvente A Maldição da Mansão Bly, com a lindíssima Victoria Pedretti.
Outra forma que isso assume são os jogos de videogame, que chegam a perturbar de tão intensos. Eu, por exemplo, já tive muitos calafrios jogando Resident Evil. Dia desses eu travei em uma fase com Mr. X, um ser monstruoso e extremamente violento. A fase era muito forte, ao ponto de eu chegar a suar e ter palpitações. Resultado: tava adorando jogar, mas nessa fase eu desliguei e fui tomar um chá – nunca mais voltei a jogar 😂.

Mr. X em ação

Além desses, o sobrenatural aparece também com as histórias macabras que nos contam, que teriam acontecido em algum lugar escuro, em um momento inesperado. Dá até pra imaginarmos sentados em um sofá ou na frente de uma fogueira, ouvindo alguma história de gente mais velha que teve experiências com o sobrenatural. Por mais incrédulo que você seja, não vá negar que nesses momentos você nunca tenha parado pra pensar se era verdade. 
Essas histórias, aliás, alimentam as famosas lendas urbanas. Que inclusive virou uma sequência de filmes. A loira do banheiro, Bloody Mary (Maria Sangrenta), palhaço assassino, o fantasma da estrada… os bonecos assassinos, que ganharam vida com Chuck, Annabelle, Billy, Dolly. No Brasil, quem não lembra da boneca da Xuxa que supostamente matava crianças durante a noite.

Cena do filme Anabelle 2

Mas porque a morte nos intriga tanto e fascina?
A resposta daria muitos livros. A psicóloga Karin Rotta disse ao blog que a morte tem esse poder de atração por ser um fenômeno incognoscível. Segundo ela, “o desconhecido, o mistério, o sobrenatural atrai irresistivelmente a mente humana. Parte do sentido da nossa existência é desvendar o desvendável”. Nesse sentido, é resultado de uma necessidade que sentimos de governar e se apropriar do que existe, e portanto, do que provavelmente exista também, no caso o sobrenatural.
Isso faz parte do que é o ser humano, porque precisamos ter certezas, mesmo que sem “provas” de algo que está além. O além-mundo-dos-vivos, que seria para alguns habitados (voluntária ou involuntariamente) pelos mortos, almas penadas ou mesmo espíritos malígnos. Almas não libertas ou que precisam cumprir alguma missão antes de ir para o próximo plano. 
Nesse caso, os assassinos e serial killers seriam os que alimentariam parte dessa “população do além”, ao por em prática o terror do fim precoce da vida. Fim que se dá de forma repentina e brutal, o que choca e marca o imaginário das pessoas – nos casos das famílias das vítimas de forma traumática; já para os que viveram depois e não tem ligação direta, isso aparece como um evento, até mesmo como um “espetáculo” macabro, que muitos sentem necessidade de desvendar.
Sobre esse ponto, o psicanalista Robson Silva nos aponta três motivos para o fascínio da morte:

1) porque temos um mórbido prazer em saber que o outro morreu e não nós (eu);
2) porque fantasiamos superar a morte diante da morte no cinema; isso porque tecemos caminhos que nos fazem pensar uma suposta lógica que vença nossa maior derrota: a morte;
3) porque de certo modo desejamos a morte como fonte de não existência – um retorno ao nada, a melhor condição segundo Schmpenhaur, o desejo de um nada impessoal segundo Freud.

Mas, não poderíamos deixar de falar dos fãs de assassinos. Nesse caso temos as mulheres (sem ser machista aqui) que se apaixonaram por serial killers; que frequentaram seus julgamentos, que até mesmo se relacionaram com eles de alguma forma (inclusive sexualmente). Só lembrar as fãs que escreviam para Ted Bundy cartas picantes e mesmo faziam visitas íntimas e se relacionavam com ele e outros assassinos. Ou os fãs de Charles Manson, que colecionam “suvenirs” vendidos por preços altíssimos no mercado negro ou na deep web.

Charles Manson e uma de suas “fãs”

Resumindo um pouco a coisa, podemos dizer que a morte seja uma incógnita, que gera curiosidade, que gera desconforto em quem fica. Ela mexe com as pessoas, fascina os que não morreram (ainda) e os que imaginam suas mortes num futuro incerto. 
Existem livros sobre a história da morte?
Então, sim, existem! Há uma infinidade de livros de diferentes áreas que abordam a morte de alguma forma. Aqui só vou citar três que falam sobre a história da morte e do medo. Em uma próxima postagem, se você gostarem, eu faço uma lista mais extensa sobre o assunto. 
Um autor que estudo isso foi o francês Philippe Ariès. É dele, por exemplo, o livro História da Morte no Ocidente, assim como o livro O homem diante da morte
No primeiro livro ele nos apresenta a fascinante história da mudança gradual na percepção sobre a morte, vista como algo familiar e “domesticado” no mundo medieval, e maldita na concepção moderna. É leitura obrigatória na bibliografia dedicada a nossa relação com a morte, seu papel na configuração de um entorno cultural e as formas de intercâmbio que nele se desenvolvem.
O segundo livro, O homem diante da morte, faz um profundo mergulho no inconsciente coletivo em torno do tema da morte para o homem ocidental através dos séculos. O que complementa o que ele vinha estudando de forma geral, nesse tema que como vimos até aqui é assustador e ao mesmo tempo prende a atenção de muita gente.
Outro livro clássico é História do medo no ocidente, de Jean Delumeau. Ao tomar como objeto de estudo o medo, ele parte da ideia de que não apenas os indivíduos mas também as coletividades estão engajadas num diálogo permanente com a menos heroica das paixões humanas. 
Revelando-nos os pesadelos mais íntimos da civilização ocidental do século XIV ao XVIII – o mar, os mortos, as trevas, a peste, a fome, a bruxaria, o Apocalipse, Satã e seu agentes (o judeu, a mulher, o muçulmano) -, o grande pensador francês realiza uma obra sem precedentes na historiografia do Ocidente.

livro peste negra
A Grande Mortandade
 John Kelly 
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* Referências: Heróis e maravilhas da Idade Média e A Idade Média explicada aos meus filhos, de Jacques Le Goff; Tempore

** Originalmente postado em 15/mai/2008.


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