A IMORTALIDADE
Texto de Wianei Carlei. Publicado no jornal Zero Hora.
Neste planeta, tudo é finito. Quer dizer, quase tudo. O Grêmio parece, teimosamente, disposto a contrariar esta verdade. Sua imortalidade foi inventada por Lupicínio Rodrigues, incrementada por Koff e Felipão, revivida nos Aflitos e está sendo esculpida no imaginário tricolor, agora sob a liderança de Paulo Odone. Não existe imortalidade, é verdade, mas nos últimos dois anos o Grêmio está ensinando como é possível se reerguer de escombros e buscar alturas, ainda que pareça carente de adequadas asas.
– O Grêmio acabou de conquistar o Gauchão tendo que corrigir um gigantesco desvio de rumos. Não foi épico derrotar o Juventude, foi até bastante fácil. Façanhudo, porém, foi entrar em campo precisando fazer 4 a 0 no Caxias e voltar para o vestiário com a tarefa cumprida. Tem perfil de proeza, igualmente, topar com o rico e orgulhoso São Paulo e mandá-lo catar coquinhos.
– No esquadrão tricolor – sempre quis resgatar esta expressão – não alinham desvalidos. Porém, é muito interessante focar nos profissionais que estão enlouquecendo o universo gremista e constatar certa modéstia que nasce na origem de muitos, passa por poucas promessas e deságua na escassez de porvir, de outros.
– Mano Menezes é um treinador que, buscado no Interior, jamais havia dirigido time grande. Em dois anos, já se firmou entre os treinadores mais importantes e valorizados do país.- Os laterais são Patrício e Lúcio, o primeiro repatriado para o Olímpico sob suspeitas, e o segundo buscado em São Paulo quando já havia esgotado qualquer resquício de prestígio profissional. A dupla de zagueiros era titular no Ipatinga, do interior mineiro. Alguém apostaria uma cédula amarrotada de um real em um zagueiro chamado Teco?
– E o “velho” Sandro Goiano que ao festejar o título estadual justificou-se dizendo que talvez não conseguisse outro na sua carreira? Edmilson, seu parceiro na tarefa de proteger a defesa, estava em Campo Bom, após passagem cinza pelo Beira-Rio. Tcheco tem biografia, mas não é verdade que já se pensava que começara o ocaso da sua carreira? E o Diego Souza, resgatado do futebol português após um ano praticamente sem jogar?
– Carlos Eduardo, como Lucas, é “cheque em branco”, mas e o veterano Tuta?
– Eles estão reconstruindo a “imortalidade” gremista. Não são gaúchos, a maioria. Mas, quando vão ao supermercado, cinema, bar ou restaurante, escutam dos gremistas que o Grêmio é imortal. No Olímpico e na imprensa, ouvem falar sobre jornadas e conquistas épicas. Acabam sentindo-se seres privilegiados vestindo uma camiseta que lhes confere forças especiais. E assim, realimenta-se a fé na imortalidade. Não interessa se não é verdade. O que importa é acreditar…
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