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Vamos além do que aprendemos na escola sobre a Idade Média — cavaleiros, feudalismo, Igreja, Peste Negra — e mergulhar em como era, de fato, a vida na Idade Média, explorando os detalhes desse período fascinante e muitas vezes incompreendido.

Dito isso, claro que podemos fazer alguns comparativos com o presente.

A higiene na Idade Média

Começando pela higiene. Durante todo período que chamamos de Idade Média, não havia saneamento básico. As formas de fazer as necessidades eram adaptadas pelos recursos que se tinha. Se fosse um camponês, desenvolveria uma fossa (parecida com a que ainda existe por aí, embora bem menos que décadas atrás). Mas, não era incomum lançar os dejetos em espaços próximos das casas (no mato, por exemplo). 

O que ganhava alguma engenhosidade quando fossem nobres e tivessem castelos ou fortalezas. Nesse caso, poderia ser construído um banheiro em alguma torre, por exemplo, com um orifício mirado para o exterior. Segundo se sabe, o primeiro vaso sanitário criado na história só seria inventado já no início do que a gente chama de Idade Moderna, pelo poeta (que ironia!) inglês John Harington, em 1596.

Mas, nos castelos e fortalezas o cocô era lançado por um orificio aberto mesmo, no alto do “banheiro”, diretamente no fosso que os circundava. Agora, imagine você um exército inimigo tentando invadir o recinto e cair nesse fosso!

Existia água potável na Idade Média?

Na Idade Média também não existia água encanada – pelo menos não como a gente tem hoje. Muita gente dependia de poços, em geral de uso coletivo. O que poderia ser um grande problema em caso de contaminação da água, coisa que, aliás, acontecia muito, ajudando a espalhar epidemias e a morte de muitas pessoas do vilarejo, da fortaleza ou do burgo (quando esses foram surgindo). 

Os romanos já construiam diques e canais para abastecimento de água (assim como os egípcios e outros povos antes deles), mas os sistemas de abastecimento mais amplos, com encanação e distribuição de maior alcance, como a gente conhece hoje, só se tornariam mais presentes já a partir da segunda metade do século XIX, ainda assim nas cidades maiores primeiro.

Dentre outros motivos, é por isso que as bebidas alternativas eram tão estimadas na Idade Média. Inclusive sendo estudadas e desenvolvidas em mosteiros, que até hoje são produtores de vinhos e cervejas muito famosos. É o caso da cervejaria Weihenstephan Brewery, que é a mais antiga ainda em funcionamento. Ela foi fundada em 1040, na Baviera, onde hoje é a Alemanha, por monges beneditinos. Mas, uma bebida que era muito disseminada na Idade Média era o hidromel, até hoje fabricado de forma artesanal em vários lugares do mundo.

Como era a alimentação na Idade Média?

Em relação à alimentação, a coisa poderia variar, mudando o tipo de alimentação de acordo com o estamento da pessoa ou grupo. Se fosse nobre ou mesmo fizesse parte da corte de algum rei ou senhor feudal mais rico, a alimentação poderia ser mais farta, com presença de carnes em maior quantidade e com mais frequência.

Agora, no caso do camponês, a alimentação era mais pobre. O que poderia ficar ainda pior se houvesse má colheita ou guerra. Nesses momentos ruins, o nobre não abria mão de sua alimentação, deixando aos seus servos e vassalos o onus maior. Especialmente para os servos que tinham as maiores obrigações para com seus senhores, seja em forma de serviços prestados ou de pagamento em natura – a exemplo das talhas, corveis e banalidades.

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O que é curioso é que nos séculos da Idade Média não havia refrigeração – exceto em poucos casos e formas improvisadas, ou ainda quando se morasse em regiões bem mais frias. É por isso que os germânicos ainda hoje tem costume de tomar cerveja e chopp em temperatura “ambiente”.

É por isso também que não era incomum os europeus comerem comida estragada, o que era até mesmo apreciado em alguns casos. Isso explica a popularidade das especiarias, vendidas por altos preços nos mercados europeus, para disfarçar o gosto ou preservar alguns alimentos. Exemplo do cravo, da canela, da nóz moscada, da pimenta do reino…

Como era a medicina na Idade Média?

A medicina era literalmente medieval! Se é que podemos chamar de medicina, ela era uma massaroca de ideias existentes desde a antiguidade (dos gregos especialmente), de influências espirituais (especialmente o catolicismo, mas não só) e aquilo que o antropólogo Claude Lévi-Strauss identificou como “complexo xamanístico” e “consenso social.”

Só pra ficarmos num exemplo, quando a Peste Negra bateu sobre a Europa, os padres e “médicos” desaconselhavam o banho, que poderia ajudar a espalhar a coisa toda. Isso porque banho não era coisa rotineira para os europeus – só lembrar o quanto os espanhóis e portugueses estranharam a prática indígena de se banhar constantemente; ou ainda a tradição francesa de produzir os melhores perfumes.

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Na Idade Média eles tomavam banho?

Em alguns lugares, tomar banho era coisa só para dia santo e em ocasiões muito especiais. Daí não ser incomum tomar apenas dois banhos POR ANO – no resto do ano apenas dando uma “lavada” nas partes íntimas quando necessário.

Só muito tempo depois, já na Idade Moderna, é que o banho seria visto como importante na higiene pessoal, ainda assim com as ressalvas de alguns países europeus, como os franceses que já mencionei.

Embora seja difícil generalizar, os castelos e muralhas era muito mal ventilados, o que se somava à umidade que ajudava a multiplicar fungos e bacterias. Coisa desconhecida dos medievais, que tinha ideias ainda muito rudimentares sobre os microorganismos. 

Se não havia água encanada, a higiene pessoal ou coletiva era precária e a alimentação deficiente, tente imaginar uma cidade medieval ou ainda pior uma vilazinha. Claro que temos que lembrar que não é nosso papel julgar, ainda mais com os olhos do presente, mas, não é difícil imaginar os motivos de a espectativa de vida ser tão baixa, sendo em média de 30 a 35 anos, tanto para nobres como para campeneses.  

Tá, mas a vida na Idade Média era boa?

Enfim, muitas outras coisas poderiam ser ditas sobre a vida na Idade Média e em qualidade de vida naquela época, podendo haver fortes variações dependendo da região ou do feudo. Isso porque o poder estava pulverizado, não havendo poder centralizado e sim inúmeros feudos e domínios.

De qualquer forma, já dá pra ter uma ideia de que a vida não era nada saudável e imagino que nada fácil, seja para nobres e sobretudo para plebeus. 

Antes de sair aproveite para ler nosso perfil biográfico de Jacques Le Goff, clique aqui ou na imagem abaixo!

biografia jacques le goff

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