Amargo doce que eu sorvo, poema sobre o chimarrão, Glaucus Saraiva, como vídeo dele declamando.
Num beijo em lábios de prata.
Tens o perfume da mata
Molhada pelo sereno.
E a cuia, seio moreno,
Que passa de mão em mão
Traduz, no meu chimarrão,
Em sua simplicidade,
A velha hospitalidade
Da gente do meu rincão.
Trazes à minha lembrança,
Neste teu sabor selvagem,
A mística beberagem,
Do feiticeiro charrua,
E o perfil da lança nua,
Encravada na coxilha,
Apontando firme a trilha,
Por onde rolou a história,
Empoeirada de glórias,
De tradição farroupilha.
Em teus últimos arrancos,
Ao ronco do teu findar,
Ouço um potro a corcovear,
Na imensidão deste pampa,
E em minha mente se estampa,
Reboando nos confins ,
A voz febril dos clarins,
Repinicando: “Avançar”!
E então eu fico a pensar,
Apertando o lábio, assim,
Que o amargo está no fim,
E a seiva forte que eu sinto,
É o sangue de trinta e cinco,
Que volta verde pra mim.
Veja o autor declamando este poema
Aproveitando, segue como dica o livro Poemas, onde encontrar este e outros poemas de Glaucus Saraiva. O livro que é parte da Coleção Pampeana, contém a obra poética completa de Glaucus Saraiva, bilíngüe. Essa edição foi saudada como das mais esperadas dos últimos tempos, por tudo que significou seu autor.
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Segundo Antonio Augusto Fagundes,
“Glaucus foi, sempre e antes de mais nada, um grande poeta. Sua poesia é uma cordilheira eriçada de píncaros sem vales e abismos e a sua vida – singular, sui generis, descontrolada – foi talvez seu mais belo poema. Glaucus não era apenas um homem, mas um furacão desatado no pampa.”
Fonte: Livro “Poesias”, autoria de Apparicio Silva Rillo. Editora AGE. 1992.
Publicado por Roberto Cohen em 29/05/2001, gentileza de Fabiano Seyboth Mallmann e José Octavio de Azevedo Aragon.
Editado por Roberto Cohen em 06/01/2004.
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