Amargo doce que eu sorvo
Num beijo em lábios de prata!
Tens o perfume da mata
Molhado pelo sereno,
E a cuia, seio moreno,
Que passa de mão em mão,
Traduz no meu chimarrão
Em sua simplicidade
Da gente do meu rincão!
Trazes à minha lembrança,
Neste teu sabor selvagem,
A mística beberagem,
Do feiticeiro charrua;
O perfil da lança nua
Encravada na coxilha,
Apontando, firme, a trilha
Por onde rolou a história
Empoeirada de glória
Da tradição Farroupilha!
Em teus últimos arrancos,
No ronco do teu findar,
Ouço um potro corcovear
Na imensidão deste Pampa!
Reboando nos confins
A voz febril dos clarins
Repinicando: “Avançar!”
Então me fico a pensar
Apertando o lábio assim
Que o amargo que está no fim,
Que a seiva forte que eu sinto
É o sangue de 35
Que volta verde p’ra mim!!!
Jornal do Dia (RS), 4 de novembro de 1949, p. 5 (disponível no site da Biblioteca Nacional Digital).
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