Estava navegando pela internet tempos atrás, procurando temas para o blog e me ocorreu a ideia de falar sobre o poder das novas tecnologias na educação e na divulgação do saber, em especial o Wikipedia.
O mundo imaginário dos Jetsons talvez ainda esteja distante, mas há o que se pensar sobre o efeito do que estamos vivendo, onde os Homo sapiens vem se “metamorfoseando” e se tornando Homo tecnologicus. É o caso aqui do espaço digital – representado aqui nessa postagem pelo Wikipedia -, que nos faz repensar as formas de leitura do mundo e a ideia de conhecimento que temos.
Quem pensa muito nesse novo mundo digital influenciando o mundo das bibliotecas físicas é o historiador Roger Chartier – isso em diversas de suas publicações. Mas, para os mais afoitos, basta uma busca pelo YouTube para encontrarmos algumas palestras desse intelectual do nosso tempo falando sobre as práticas e tratos dos livros e do conhecimento em nosso, sempre passageiro, tempo presente.
Mas, minha intenção aqui é falar de um produto específico do cyber world: o Wikipedia.
Já vi muitos professores execrarem o site por ser falho na sua estrutura de colaboração aberta. A principal acusação é que ficam expostas informações pouco ou nenhum pouco comprovadas. Eu já colaborei em alguns momentos com artigos de história por lá, quando o assunto me era bem familiar. Isso já faz algum tempo e me lembro que as referências ficavam bem bagunçadas – uma dos principais motivos de rejeição.
Mas, desde sua fundação em janeiro de 2001, por Jimmy Wales e Larry Sanger, a Wikipedia vem mudando bastante. A internet e a participação dos navegantes também. O mundo das pessoas preocupadas em conhecer/aprender algo útil, que vimos mudar de século, já não mais tão “inocente” em relação ao que seleciona para ler/ouvir/assistir na internet. Estamos cada vez mais exigentes (pelo menos uma parte de nós).
É aí que está o avanço! Erros continuam e devem ser identificados por lá. Mas, o próprio site acopla avisos de necessidade de mais fontes, de verificações e de atualizações necessárias.
Jimmy Wales, um dos fundadores do Wikipedia
O que quero dizer, como aliás disse também Peter Burke em História Social do Conhecimento, é que, apesar das falhas e limites do Wikipedia, há grandes possibilidades e utilidades para essa “enciclopédia livre” – inclusive no uso da crítica ao seu conteúdo. Creio eu que os professores precisam começar a repensar suas funções e superar os preconceitos. Precisam aprender, ou reaprender, a usar isso de uma forma construtiva e não simplesmente negar sua utilidades.
Afinal, é inegável que a internet mudou nossa forma de ver o conhecimento e sua difusão – o que inclui um número crescente de canais de conteúdo educativo no YouTube. Mas, no caso especial que estamos falando nessa postagem, é inegável também que os resultados das buscas dos alunos terão sempre entre as primeiras e mais vistas sugestões nos buscadores o Wikipedia.
Não podemos mais estar estreitados em nossas bibliotecas físicas – com todos os problemas das nossas bibliotecas escolares -, nos mantendo como herdeiros “chorentos” de Guttemberg, a se apegar nos livros físicos. Em 2000 eram 361 usuários de internet no mundo; até 2019 já eram 3,9 bilhões! E espero realmente que cresça ainda mais. Estamos diante de um mundo com novos temas, novas fórmulas, novos personagens, novas ferramentas. Estamos diante de um mundo em que aprender pode significar muitas coisas e uma delas é estar “antenado” na internet – valendo isso para alunos e professores.
Como disse certa vez Jimmy Wales em um especial da BBC News:
“Agora, em primeiro lugar, nós estamos começando a ouvir (ler) das pessoas o que víamos na TV. Agora eles estão na internet falando para nós. Isso está se tornando incrível”*.
Uma história social do conhecimento II: da Enciclopédia a Wikipédia
Peter Burke
* O especial, infelizmente, não está mais disponível no site da BBC, mas há diversas outras reportagens sobre Wikipedia e entrevistas com Jimmy Wales: http://www.bbc.com
** Internet Sistems Consortium, repreduzido em Horizons, op. cit.
Postado originalmente em 12 de maio de 2013.
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