O Contrato Social e outros escritos:
Discurso Sobre a Origem e os Fundamentos da Desigualdade Entre os Homens
Parte I
(…) A maioria dos males é fruto de nossa própria obra, e de que seriam quase todos evitados se conservássemos a maneira simples, uniforme e solitária de viver, que nos foi prescrita pela Natureza. Se ela nos destinou a sermos saudáveis, ouso quase afirmar que o estado de reflexão é um estado antinatural e que o homem que medita é um animal depravado (ROUSSEAU, edição de 1978, p.150).
Rousseau é um dos pensadores europeus mais considerados do século XVIII. Ora, o século XVIII fora marcado pelo Iluminismo ou Século das Luzes. Filosofia e ciência eram assim suas idéias principais. Ele é considerado filósofo da humanidade, da natureza, da liberdade e da igualdade. Rousseau preconizava a difusão do conhecimento, pois para ele esse era o meio de colocar fim a superstição, a ignorância, e ao império da opinião, e do preconceito, necessário para a libertação das pessoas, assim ele contribuía para o progresso do espírito humano.
Na primeira parte da obra O Contrato Social, Rousseau concebe existir na espécie humana, dois tipos de desigualdades. Uma ele chama de desigualdade física ou natural, no qual está é estabelecida pela natureza, que está ligada as forças corporais e as qualidades do espírito e da alma, a qual é independente da vontade do homem; E a desigualdade moral ou política que depende de uma espécie de convenção e que foi estabelecida pelo consentimento do homem.
Analisando a obra de Rousseau podemos entender como ele mesmo nos descreve em sua primeira parte, que o objetivo central de seu discurso consiste em:
Analisar no progresso das coisas o homem em que, o direito sucedendo a violência, foi a Natureza submetida à lei, de explicar por qual encadeamento de prodígios pode o forte resolver-se a seguir o fraco, e o povo adquirir uma tranqüilidade de espírito a preço de uma felicidade real. (p.144).
Rousseau nos indaga sobre o espírito do homem, a sua inteligência e como vive em sociedade a tal ponto que é envolvido pela desigualdade ora natural ou moral. Abrindo o leque para uma série de discussões que o autor faz-nos pensar, é interessante os questionamentos que vão surgindo. O homem selvagem por si só, sem desenvolvimento nenhum, de uma hora para outra pode começar a filosofar? Rousseau explica-nos que não. O espírito humano desenvolve-se com o pensar, numa ação que é refletida ao longo dos tempos, que se inicia primeiramente com o ato de pensar e que se aprimora nas capacidades mentais que o homem vai desenvolvendo.
Uma das dificuldades considerada por Rousseau em seu discurso, é no que diz respeito ao desenvolvimento das línguas, ou seja, como se originou as línguas que hoje dispomos. Rousseau explica-nos que é complicado estabelecermos quando se deu a sua formação, mas logo conclui, é evidente que a sua formação se deu, ao passo, que os homens foram sentindo a necessidade de aprimorar a sua comunicação, até então pouco desenvolvidas.
De acordo com Rousseau as línguas teriam se estabelecido, a maneira que, deu-se a distância do estado natural puro para a necessidade de utilização de uma linguagem. A primeira linguagem original até então utilizada, era a expressão do Grito da Natureza, evocado em momentos de perigo e socorro. Mas tarde, quando as idéias foram tomando formas, passou a desenvolver-se um número maior de sinais, e de gestos dando-se a busca de uma linguagem mais extensa.
Os gestos até o que se sabe, indicavam apenas objetos visíveis e em movimento, passando-se a partir daí a substituição de gestos simples por uma articulação da voz, necessária para o estabelecimento do uso da palavra.
Analisando todo o processo que foi desenvolvido até termos as palavras formadas, as classes gramáticas e todos os usos vocábulos que hoje dispomos, Rousseau nos leva há pensarmos quanto tempo e conhecimento não foi necessário para a construção de todo esse processo de formação das línguas. Isso não aconteceu de um dia para o outro, mas sim foi uma conquista, pois como analisa Rousseau é impossível que as línguas tenham nascido e se estabelecido por meios puramente humanos, mas é possível que a Natureza tivesse aproximado o homem à necessidade dele mesmo buscar, aprender e descobrir o novo.
Rousseau segue indagando sobre os vícios e as virtudes que estariam ou não ligados ao estado natural do homem ou ao estado civilizado. Analisando Hobbes ele diz que este raciocinando sobre os princípios que estabelece, devia dizer que, sendo o estado natural aquele em que o cuidado com a nossa conservação é o menos prejudicial à conservação alheia, o estado natural, conseqüentemente, seria o mais adequado à paz e o mais conveniente ao gênero humano. De sorte, diz Rousseau contrapondo Hobbes, que se poderia dizer que os selvagens não são perversos precisamente porque não sabem em que consiste em serem bons, porque não é o desenvolvimento do conhecimento nem o freio da lei, mas a tranqüilidade das paixões e a ignorância do vício que os impede de praticar o mal.
O filósofo cita, também, o caso de haver, no homem, a piedade – disposição adequada aos seres tão impotentes e sujeitos a tantos males como somos; virtude, tanto mais universal que os próprios animais dão dela, algumas vezes, sinais sensíveis. É o caso de uma compaixão natural; um movimento da natureza, anterior a toda reflexão.
Para Rousseau, Mandeville percebeu perfeitamente que, com toda a sua moral, os homens jamais teriam sido senão monstros, se a Natureza não lhes tivesse dado o sentimento da piedade em apoio da razão; ela constitui para Rousseau um sentimento natural que concorre para a mútua conservação de toda a espécie; da razão decorrem todas as virtudes sociais. É o caso da clemência, generosidade e da humanidade. Essa virtude aumenta no homem a força. Aí, nota-se que é a razão que engendra o amor-próprio, e é a reflexão que o fortifica; é ela que concentra o homem em si mesmo; é ela que o separa de tudo que o molesta e o aflige. É a filosofia que o isola e tapa seus ouvidos aos suplícios alheios, impedindo a Natureza que está nele de se revoltar o de afligir por causa do outro.
Discute ainda sobre as paixões e suas compulsões desenfreadas e sua ligação com a necessidade das leis para freá-las. Distingui o físico, que é o desejo geral que leva um sexo a se unir com outro e o moral que é o que determina esse desejo e o fixa exclusivamente sobre um único objeto, ou que, pelo menos, lhe fornece para esse objeto preferido um maior grau de energia.
Ele vê a mulher como o sexo que deve obedecer e não usando com habilidade a moral do amor, que se baseia em certas noções de mérito e beleza, para estabelecerem seu império e ser um sexo dominante. As noções inerentes a isso em um selvagem não existem, pois seu coração não é suscetível de sentimentos de admiração e amor, que para ele se originam da explicação dessas idéias. O selvagem atende apenas ao temperamento recebido da Natureza, e não ao gosto que não pode adquirir; assim “qualquer mulher é boa para o selvagem”. Para ele o homem deve fugir desses “ardores do temperamento” e ter entre si “disputas mais raras e menos cruéis”. Por fim, explica que a imaginação que comete entre nós tantas destruições, não fala de modo algum a corações selvagens. Aguardam o impulso da Natureza, a ele se entrega sem escolha e, uma vez satisfeita a necessidade, todo o desejo está extinto.
Na seqüência, Rousseau trata o sentimento amoroso e o distingue entre físico e moral, contextualizando-os com o selvagem, que acredita não ser útil esse sentimento. Para esse selvagem os sentimentos amorosos são como necessidades que, depois de satisfeitas, extinguem o desejo. Rousseau ainda faz comparações com os relacionamentos humanos e a Natureza, e conclui sobre isso que o homem selvagem, tão fora da realidade do homem socializado, enxerga somente aquilo que acredita ter interesse em ver.
E, sobre as diferenças de comportamento e temperamento, Rousseau se indaga sobre a obra da Natureza, que distribui seus diversos dons de forma sábia, não deixando margem para erro quanto a favorecidos e prejudicados. Então, compreende que a desigualdade possui uma influência nula e se faz sentir apenas no estado natural das coisas. Ainda desencadeando seu pensamento, analisa as virtudes sociais que pode receber o homem, pontuando que estas não se desenvolvem sozinhas, mas contribuem para aperfeiçoar a razão humana e, no entanto, levam à deterioração da espécie.
São vastas as informações de Rousseau para elencarmos nessas páginas toda sua trajetória e teorias, mas em síntese, é preciso salientar isso: Rousseau foi um importante pensador para o século XVIII, e continuam sendo para os dias de hoje. Suas contribuições ao nosso século são muitas.
Assim as idéias de Rousseau são importantes para compreensão do Estado moderno. Ele era um forte crítico do liberalismo, e acreditava que a vida moral requeria a participação do homem no corpo inteiro da sociedade. Rousseau ainda sofreu influência no movimento romântico, que viria posteriormente, como forma de pensar e sentir o mundo, assim ele valorizava o mundo de sentimentos em contraposição a razão intelectual e da Natureza mais profunda do homem.
Seu pensamento sofreu influência decisiva na História do mundo Ocidental, e mais tarde viria a influenciar o mundo todo. Rousseau buscava trazer sempre presente em seus textos e nas discussões que levantava a questão do espírito humana, da Natureza ligada a volta do homem em seu estado natural. Rousseau foi um pensador importante no que tange a educação, enaltecendo a educação natural dos homens, e a política.
Sua teoria política no mais, constitui sobre vários aspectos, uma síntese de Hobbes e Locke, para os quais a origem da propriedade privada teria ao mesmo tempo em que civilizado para uns, arruinado a raça humana para outros, pois com ela deu-se ainda mais a desigualdade dos homens.
Ao longo de sua vida Rousseau recebeu críticas de alguns filósofos. Como exemplo de contradição simples de Rousseau, podemos citar Voltaire, o qual dizia: “Rousseau quer que as pessoas voltem a andar de quatro”.
REFERÊNCIA
ANDRIOLI, Antonio Inácio. A Democracia Direta de Rousseau. Revista Espaço Acadêmico. Ano II – nº 22 – Março de 2003.
Disponível em:www.espaçoacademico.com.br/022/22and_rousseau.htm
Acesso em: 16/06/08.
ROUSSEAU, Jean Jacques. O Contrato Social e outros escritos. Introdução e tradução de SILVA, Rolando Roque da. São Paulo: Ed. Cultrix, 1978.
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