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DOCUMENTÁRIO: Rolling Thunder Revue – A Bob Dylan Story [Resenha]

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Saiu em junho de 2019 o documentário-filme sobre Bob Dylan, Rolling Thunder Revue. Assistimos e queremos dar algumas palavras a respeito!

Uma turnê que não deu lucros, mas que foi riquíssima em cultura. Assim que poderíamos definir os momentos experimentais vividos por Dylan e sua trupe em 1975. Um ano de crise nos EUA e no mundo, momento de protestos, de mudanças e de convulsões. Assim mesmo um ano rico em cultura, que provou que o valor das coisas não está no dinheiro, mas sim na qualidade da cultura, em seu sentido mais completo, que inclui experimentação, exotismo, exoterismo, protesto e vida vivida ao extremo – incluindo nesse caso os seus exageros ao estilo Rock’n’roll


Dylan e Baez



Mas, o documentário de Martin Scorsese não é só feito de realidade, há muito de encenação misturada. Ele é descrito como o registro da turnê em que o cantor levava o álbum Desire à cidades e lugares menores dos EUA, mas os encontros de bastidores são na verdade retirados do longa Renaldo and Clara, dirigido pelo próprio Dylan em 1978, e os depoimentos, em grande parte, são encenações. Assim, quando assistimos podemos achar, por exemplo, que a turnê de Bob Dylan envolveu o político Jimmy Carter, um encontro com Sharon Stone, e um registro por um tal de cineasta chamado Stefan Van Dorp – esse último nunca existiu. É difícil separar os relatos entre verdades e mentiras, mas esta é a genialidade por trás de tudo, já que o real é, muitas vezes uma questão de percepção – como historiadores como eu e alguns colegas aprendemos na faculdade.




De qualquer forma, a multiplicidade de corpos, símbolos e sentidos é o que Rolling Thunder Revue quer passar no final. Bob Dylan e Joan Baez liderando com suas vozes únicas, Allen Ginsberg dando o suporte místico e mais um grupo multifacetado de cantores e músicos dando vida ao projeto que tinha ares circenses. Tudo isso transformado em documentário-filme. 


Dylan e Ginsberg em visita ao túmulo de Jack Kerouac (On the road)



Mas voltemos ao que é “real”. Como dissemos, a turnê não deu lucros. Bob Dylan e cia, dada sua afinidade com a experimentação, preferiram lugares menores, com público mais novo, com pouco dinheiro para gastar. Para se ter uma ideia, os ingresses dos shows de Dylan nesse ano custavam em média 8 dólares, enquanto os shows de Elvis Presley, que lotavam grandes espaços, custavam em média 10 dólares. O grupo de Dylan em alguns momentos, com dinheiro reduzido, teve que se adequar à situação, inclusive com alguns músicos tendo que se “rebaixar” à condição de ajudantes. Mas, enquanto os organizadores esperavam por lucros, essa não foi a intenção “essencial” de Dylan, que mostrou estar mais preocupado em fazer arte. 


Dylan em entrevista para o documentário



Bob Dylan estava preocupado também, na ocasião, com uma causa em particular: a de Rubin Carter, o Hurricane. Ele, negro, havia sido acusado e julgado por triplo homicídio qualificado pelo ocorrido em Lafayette Grill localizado em Paterson, New Jersey, em 1966. Desde então estava preso injustamente, sob flagrante motivação de racismo. Nos anos do julgamento, foram verificados diversas inconsistências nas acusações e controvérsias por parte da acusação. Dylan assumiu a causa e passou a conclamar seus fãs a defenderem Carter, pedindo sua libertação. Como não poderia deixar de ser, em Rolling Thunder Revue, o ex-promissor boxeador tem uma participação no documentário, com imagens da época e atuais. E, claro, com a música feita para sua defesa – Hurricane – sendo apresentada pela primeira vez no fim do ano ao público, como uma volta às músicas de protesto por parte do cantor. 


Em visita a Rubin Carter na prisão



Mas, Rubin Carter e sua música são apenas uma pequena parte da turnê. A playlist executada nos shows daquele ano é riquíssima, com muitos grandes sucessos, velhos e novos, tais como IsisBlowin’ in the wind, One more cup of coffee, Like a womanThe lonesome death of Hattie Carroll e Hard rain.




Enfim, antes que eu comece a multiplicar o número de spoillers, só quero deixar como comentário qualitativo, quase parafraseando o nosso Raul Seixas, que esse documentário é denso, largo, profundo… e vale muito a pena!

Assista ao trailer:
No Direction Home
2 DVDs Deluxe Edition
livro raul seixas


Assista One more cup of coffee da turnê de 1975:
Caso esteja recebendo por e-mail, clique aqui para assistir aos vídeos dessa postagem!


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