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Venho pensando sobre uma questão muito importante num país como o Brasil e que, se for pensada com calma, é bem polêmica também: edifícios históricos. O que me deixou com algumas perguntas: preservar? não preservar? quais preservar?

Não quero dizer que sou contra preservações de monumentos e imóveis históricos, trata-se de outra coisa aqui. O fato é que, se repararem, os edifícios que são preservados  estão muito mais ligados a uma “classe de posses”, a uma elite dominante, do que ao resto muito mais numeroso da população. Para além de alguns edifícios oficiais, aqueles que serviram por algum tempo ao serviço público, que vem sendo restaurados e abertos à visitação também, o que temos preservados para rememorar são, entre outros, especialmente casas de famílias “tradicionais”, casarões e sobrados. 


Isso porque as casas de muitos “populares”, foram e são vendidas com muito mais facilidade, especialmente quando se encontram em algum ponto estratégico, economicamente falando, das cidades. Além do fato de muitas delas serem feitas de materiais menos duráveis, como as casas de madeira que se espalham pelo Brasil desde nossa época colonial, até as sub-moradias das favelas e periferias dos dias atuais (a lista é diversa aqui). É o caso também do preconceito que ronda os nossas comunidades tradicionais, especialmente índios e quilombolas brasileiros – no primeiro caso sobretudo por não terem os monumentos, templos e edificações dos nossos vizinhos da famosa e cultuada civilização Inca.


Casa de colono. Foto atual, disponível no site Dourados Agora


Como já disse e repito, não que eu ache desimportante preservar (e eis uma das minhas respostas as primeiras perguntas), mas creio que tenhamos que lembrar às gerações futuras que existem também outros tantos tipos de construções físicas e culturais, neste caso materiais, que nem sequer resistem às primeiras investidas de agentes imobiliários. 

Agora quando se fala em cultura material móvel ou mesmo imaterial, o esforço vem tendo um pouco mais de resultado por parte de curadores de museus e órgãos governamentais, como o IPHAN, por exemplo. Mas, mesmo nesse caso, o que nos salta aos olhos são peças que nos levam ao “culto” às heranças do Capitalismo, especialmente quando o assunto são nossas sociedades modernas. Talvez por isso eu visite museus com bastante ressalva e faça questão de lembrar meus alunos dos “outros museus”, aqueles que guardam a memória dos vencidos, dos “de baixo”, do “popularesco”, como o Museu do Sambaqui, em Joinville, SC. 


Ainda sobre cultura material imóvel, claro que historiadores e professores devem procurar isenção, mas isso nem sempre funciona na prática. Ainda mais em questões cujo assunto central provoca polêmica. Se formos pegar alguns exemplos do que estou dizendo, tomando os que são próximos ou familiares para mim atualmente, teremos: as casas de madeira sobreviventes na Colônia Agrícola Nacional de Dourados (a CAND), na região de Dourados, MS; os sambaquis do litoral, depredados por uns e “saqueados” por outros; e as casas históricas de Jaraguá do Sul e Joinville, que vem sendo restaurados.

Um exemplo de prédio histórico de Jaraguá do Sul, SC, pode ser visto por quem vai para o centro da cidade, passando com alguma frequência pela Casa Horst (veja imagem logo abaixo), da década de 1920, que vem sendo restaurada com recursos públicos e dos proprietários.


Casa Horst. Foto do FMC de Jaraguá do Sul


Lembro que recentemente alguns amigos no Facebook também compararam a Usina Velha de Dourados-MS, em situação de descaso, com o Coliseu, muito bem preservado em Roma, na Itália, como segue a imagem.



Imagem comparando Usina Velha e Coliseu. 
Página Dourados a Europa do Brazil no Facebook



Finalmente, mais uma imagem que se encaixa aqui no rol de prédios históricos sendo restaurados no Brasil: trata-se do prédio da antiga Faculdade de Direito de Natal, RN, construído em 1908 (que ilustra a foto de início dessa postagem também.


Faculdade de Direito de Natal, RN. Foto de Edu Barbosa
Clique aqui! 
Foto do topo: Faculdade de Direito de Natal, RN. Foto de Edu Barbosa
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  1. Avatar de José A. Fernandes

    Achei essa entrevista interessante com a prof. Maria Bressan, da USP com o título "Preservar é muito mais que tombar"

  2. Avatar de José A. Fernandes

    Retwitei sua denúncio Hudson, espero que ajude…

  3. Avatar de Hudson fernandes

    Em salvador é um descaso total com monumentos históricos.Arquivo público da Bahia está sem luz três anos isso é um absurdo.

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