Isso nos faz pensar em Marc Bloch, em seu Apologia da História, quando nos diz que os documentos não falam, senão quando são interrogados e que as perguntas que fazemos condicionam a análise.
Bacellar diz ainda que o interesse pelos arquivos começa já na graduação, ou mesmo por influência de algum professor no ensino médio, e que deve ser incentivado e melhor discutido em sala de aula. À parte os professores escolares que cultuam a “decoreba histórica”, sempre se manifestam alguns que ousam acreditar na possibilidade dos alunos entenderem a importância do senso crítico e do uso das múltiplas fontes, fazendo assim surgir o interesse por pesquisas documentais, ainda que embrionárias. Em todo caso, acredito que o primeiro caso citado por Bacellar, do surgimento pelo interesse na graduação, seja o mais comum.
O autor lista ainda os vários tipos de fontes: escritas, orais ou visuais, oficiais ou particulares, públicos, cartoriais, comerciais ou policiais. Prestando atenção especialmente nos documentos escritos. Entrando, em seguida, na questão da “hora da mão na massa”, quando acontece a prática direta da pesquisa, mostrando as condições de trabalho, as dificuldades, os instrumentos e as expectativas com os documentos achados. Fala também dos cuidados no trato do documento, quando manuseá-lo, como manuseá-lo, para não estragar, usando luvas, mascaras e outros equipamentos.
Esse último ponto me trouxe à lembrança uma experiência vivida na graduação. Participei com um amigo de um seminário, onde tínhamos como missão apresentar algo relacionado a este texto de Bacellar. Para mim, foi uma oportunidade de reavaliar uma pesquisa direta que realizei no Arquivo Público de Campo Grande, Mato Grosso do Sul, em março de 2008. Pude rever algumas atitudes e mesmo identificar alguns pontos em que “falhei” como pesquisador em arquivos impressos, como, por exemplo: o manuseio de documentos, tendo percebido pontos em que poderia ter colocado em risco a integridades dos mesmos e também da minha saúde.
Como essa experiência no Arquivo havia sido algo que eu tinha feito pela primeira vez, descuidei, em alguns momentos, do uso da máscara, que funciona como filtro das muitas bactérias que repousam sobre as “folhas velhas”, guardadas em arquivos empoeirados. De qualquer forma, ao menos em algumas coisas não pequei, como, por exemplo, no uso das luvas, que são sempre desconfortáveis, mas que, por um lado, impedem que o suor das mãos corroa ainda mais as fontes e, por outro, impedem que as mãos estejam em contato com bactérias que, por descuido, podem ser transmitidas aos olhos e boca. Outro acerto foi quanto ao manuseio cuidadoso de alguns documentos que, para se desmanchar, só precisavam de uma ajuda.
No resumo da ópera, lidar com arquivos documentais não é uma tarefa que deva ser feita com descuido, pois caracterizaria o “mau uso”, que por sua vez traria uma série de consequências “abomináveis” para o ofício do historiador, tais como: destruição de documentos, perda de fontes importantes, doenças, etc. Como medida preventiva e de cuidado, muitos “guardiões” dessas fontes vem usando formas mais atualizadas (e com menos riscos) de divulgar os conteúdos de suas coleções. Diversos Arquivos Públicos e mesmo particulares vem digitalizando grande parte de seu acervo e armazenando cópias que podem ser consultadas pelos visitantes de seus espaços físicos ou mesmo encontradas, em casos cada vez mais frequentes, na internet.
Para entender o por que desta postagem, veja o sumério abaixo.
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