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No final do oitocentos e início do século XX, os trabalhadores livres em Corumbá, no então Mato Grosso, estavam empenhados nas mais diversas atividades, dentre elas a de vendedores ambulantes. Um dos homens que se empenhavam nessa modalidade de ocupação era Leopoldino, mais conhecido como Leopoldino “Bucho Gordo”…

Ele circulava pelas ruas da cidade vendendo bucho limpo e aferventado, daí o apelido adquirido pela forma como anunciava seu produto. 



Às vezes sua mercadoria era substituída por peixe fresco e bocaiuvas, que igualmente eram transportadas em latas de vinte litros. Na imagem é possível perceber a simplicidade de Leopoldino a partir de sua vestimenta. A falta de calçados denota seu estado de pobreza, e que ele circulava a cidade descalço e com roupas compridas, ofertando seus produtos, apesar das altas temperaturas da região já relatadas naquele momento.

Leopoldino, ao circular pelas ruas de Corumbá, ficava sabendo da vida de seus habitantes, e não raro usou desse artifício para chantagear aqueles que tinham alguma confidência a esconder, tais como homens e mulheres “infiéis”. Assim, conseguia certo pecúlio extra. Outra marca desse trabalhador era a forma como divulgava seu produto, com intuito de chamar a atenção da freguesia.

Quando saía vendendo peixe, Leopoldino anunciava assim: “Olha o peixe!”. Se o pretendente fosse homem, ele, de imediato, completava: “Fresco!”, supostamente para brincar com o freguês. Caso a interessada fosse mulher, ele, está claro, variava para “Peixão!”, como um deslumbrado ante a beleza ou a esbelteza na candidata.

Havia uma particularidade: a cada dia 20 de setembro, consagrado à data da unificação da Itália, para brinca ou pilheriar com a numerosa colônia italiana em Corumbá, Leopoldino se exibia cantarolando pelas ruas da Cidade Branca, declamando versos de sua autoria, como estes:

É importante ressaltar que Leopoldino é apenas um dos muitos trabalhadores que buscavam sobreviver em Corumbá a partir de atividades eventuais, na venda ambulante, na prestação de serviço etc. Homens e mulheres que caíram no esquecimento, mas que foram cruciais para da dinâmica da cidade no seu momento áureo.

Dica de livro:

História de Mato Grosso, de Elizabeth Madureira Siqueira


Fontes: 


Álbum Graphico de Matto Grosso (1914).

Renato Báez. Imagens & miscelâneas (1986).

João Carlos de Souza. Sertão Cosmopolita (2008).

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