
Tentando apresentar a vocês um ponto especifico de nossa história dos trabalhadores, gostaria de falar sobre as comemorações do Dia do Trabalhador no Brasil durante a Ditadura de Getúlio Vargas (1937 a 1945)**.
Segundo Valéria Fernandes**, o Estado Novo, usando o carisma de Getúlio Vargas, se responsabilizou por transformar os operários de nosso país em “cidadãos brasileiros”. O esforço dos ideólogos do governo era de criar um imaginário político comum e homogêneo entre os trabalhadores, com a ideia de que eles estariam integrados à vida da Nação. Assim, os discursos pronunciados na festa do Primeiro de Maio brasileiro faziam parte de um grande movimento preparado pelo Estado Novo.
O que se via naquele período, que se estende de 1937 a 1945, era uma festividade anual, muito bem montada, com discursos persuasivos pronunciados pelo ditador Getúlio, a figura central do evento.
“A partir de 1938, o projeto trabalhista do Estado Novo, na tentativa de aproximar o Presidente Vargas e o movimento operário, apropriou-se do Primeiro de Maio e o transformou em comemoração cívica, a ‘festa do Trabalho’, retirando o caráter combativo que a data apresentava”***.
Interessante é pensarmos no que era ser “cidadão” naquele período. Getúlio Vargas fazia questão de, de forma dramatizada, neste momento que se tornou tão esperado pela população e pelo Estado nacional, lembrar ao povo que com ele ia ter contato direto das realizações sociais já consumadas e dos projetos trabalhistas a serem executados. Era o ponto máximo do caráter populista, onde governo e povo pareciam estar participando de um mesmo movimento, em prol do bem comum da Nação.
No momento em que acontecia o contato direto entre o povo e o Poder Público, as iniciativas governamentais eram apresentadas sempre como uma demonstração da proteção e da atenção oferecida pelo presidente**.
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A ditadura varguista, implantada em novembro de 1937, dizia ter sido imposta em nome das exigências históricas e das solicitações dos interesses coletivos, com a finalidade de defender os interesses do povo** – entenda-se aqui como exigências históricas o combate à “ameaça comunista” e das “oligarquias regionais” da política brasileira.
Por fim, não resta nenhuma dúvida de que um aparato incrivelmente organizado trabalhava a favor da imagem de Getúlio Vargas e do Estado Novo, prometendo para isso integrar os “excluídos”.
Sobre isso, basta prestar atenção nos lugares que foram escolhidos para a festividade do Dia do Trabalhador: em 1938 foi realizado no Palácio da Guanabara (lembrando que a capital do Brasil nesse período ainda era o Rio de Janeiro) e depois, a partir de 1939, no Estádio São Januário, do Vasco da Gama – uma única exceção se deu em 1944, quando o evento foi realizado no Estádio do Pacaembu, em São Paulo. Era o lugar perfeito para dar propaganda ao presidente mais popular do Brasil.
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Antes de sair, queria deixar uma dica de livro: Getúlio Vargas E O Ministério Do Trabalho, de Ronaldo Bernardino Colvero
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Notas e referências
* Comemoração do Dia do Trabalho, 1º/5/1943. Getúlio acena, em frente ao prédio do Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio, Rio de Janeiro (então DF). Foto: Arquivo Nacional.
** Usei como base o texto de Valéria Dal Cim Fernandes publicado no site História e-História: “O Operário em Construção”: um estudo sobre os discursos varguistas no Primeiro de Maio do Estado Novo. (1938-1945). Disponível em: http://www.historiaehistoria.com.br/materia.cfm?tb=historiadores&id=59.
*** Discurso lido por Getúlio Vargas no palácio Guanabara e irradiado para todo o país, na noite de 10 de novembro de 1937. Ver: VARGAS, Getulio. Proclamação ao povo brasileiro. In: A nova política do Brasil. Rio de Janeiro: José Olympio, 1938, vol. V: O Estado Novo (10 de Novembro de 1937 a 25 de Julho de 1938), p. 15-32.
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