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Capa do filme. Imagem de reprodução

Um dos mais carismáticos papas de todos os tempos, João Paulo II, nascido Karol Józef Wojtyła, em Wadowice, Polônia, em 1920, é “retratado” nesse filme imediatamente póstumo de 2005 (mesmo ano de sua morte). 


Tencionando ser “documental”, procura mostrar o lado mais humano de um homem que é muito admirado no seu meio. Para isso juntou em seu elenco nomes conhecidos, entre os quais: Cary Elwes (Karol jovem), Jon Voight (já adulto) e Christopher Lee (Cardial Stefan Wyszynski). 

É esse filme, dirigido por John Kent Harrison, que quero comentar brevemente aqui e deixar para os que o assistirem, talvez mais para os historiadores que propriamente aos religiosos, alguns pontos a serem pensados com menos fé e um pouco mais de razão*

Embora seja de cunho religioso, João Paulo II, começando um exercício de rememoração do próprio papa quando do ataque de 1981 que quase o matoupossuí ao menos uma missão política bem direta: promover uma cruzada ideológica católica, podendo-se dizer pessoal do papado, contra o Comunismo. São mostrados ao longo da trama diversos eventos envolvendo o protagonista e suas experiências com os agentes de Moscou, que vão desde a vitória na Segunda Guerra Mundial, onde seria substituído o dominador nazista pelo comunista, até perseguições e mortes de padres e leigos próximos seus. 




Assim, o que é mostrado no filme “explicaria” o ódio de Karol, à princípio pelos nazistas e depois, com a queda de Hitler e seu partido, pelos comunistas. No período posterior à Segunda Guerra em que morou na Polônia (e mesmo depois enquanto no Vaticano), o país esteve dominado pelos soviéticos, só começando a ganhar autonomia com a vitória do movimento anti-comunista Solidariedade, liderado por um amigo seu, Lech Walesa, no fim da década de 1980, que aliás, desde o início, contou com seu apoio (sobre isso há o interessante artigo na edição de março de 2005 de SuperinteressanteO papa e a história, de Denis Russo)

Se tomássemos acriticamente o ponto de vista do filme, entenderíamos como uma “contribuinte” à construção da “demonização” do Comunismo a ação da própria União Soviética de Stalin e governos seguintes. Sobre isso teríamos, como visto, mais especificamente o Terror comunista e as ações de expurgo e extermínio perpetradas nos territórios dominados, incluindo neste caso a Polônia. 

No entanto, uma análise mais “racional” e demorada do que é passado nos fará perceber que tal demonização do Comunismo, mesmo ganhando publicidade inédita nesse momento, não era algo novo e exclusivo de João Paulo II. Não quero aqui defender as atrocidades de Stalin e seus sucessores, mas também não podemos generalizar as ideias marxistas, como fez Karol, usando como seu desenho mais perfeito a “imperfeita” URSS


Claro que, com alguns variações (caso da China), este era o Comunismo que os poloneses e demais países dominados e influenciados conheciam, mas claro também que já havia uma predisposição da Igreja Católica de combatê-lo (seja qual fosse sua variável), como uma “religião” do anti-Cristo e de infiéis (ou melhor ateus).

Por esses e outros motivos, para além do elemento religioso, termino acreditando que justifica-se uma vista atenta deste filme por parte de historiadores, professores e demais cientistas sociais. Trabalhar isso em sala de aula é difícil, afinal tocar no assunto “religião” gera sempre tensão e mal estar, mas sem preconceitos, de qualquer um dos lados, creio que fica interessante e produtivo.


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*Meu objetivo aqui não é, de forma alguma, fazer ataques à religião propriamente ou denegrir imagens, quero apenas suscitar questões históricas.



** Originalmente postado em 18/jan/2013


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