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Não é de hoje que o negro tem consciência no mundo e no Brasil. Eles sempre a tiveram!


É um grande erro acharmos que os negros precisam de um dia pra consciência. Calma, eu explico. Não estou desmerecendo a lei 12.519, de 10 de novembro de 2011, ou a luta dos negros contra o racismo. Não estou invalidando as conquistas… Não é isso. O movimento negro – seja através de coletivos, de campanhas, de lutas diárias por direitos, etc. – sempre será muito válido! 


O que quero dizer nessa postagem é que não é de hoje que os negros estão se “conscientizando”. Ou acham que quando eram escravos no Brasil eles não sabiam de sua situação, de sua condição? Evidente que sabiam né! 


Eles já sabiam que, mesmo tendo se tornado livres em 1888, a questão não tinha se resolvido. Quase nada se resolve sem luta e sem resistência ao status quo. Quando foram libertos por meio da Lei Áurea, através da pena de Isabel, a princesa, e como resultado dos movimentos abolicionistas, não creio que tenha havido ilusão por parte dos negros de que os “brancos” bem-nascidos, aqueles que sempre haviam sido escravocratas, fossem abrir as portas de suas casas para eles para um chá da tarde em seus casarões construídos à base do trabalho escravo, para debater os “rumos do Brasil” ou a nova condição deles como “cidadãos”, ou ainda o fato de supostamente eles terem se tornado seus “compatriotas”.


A própria política deixa clara a situação, no que diz respeito à cidadania e à participação nas decisões do país. Não havia voto para os negros – que faziam parte da grande maioria dos analfabetos excluídos das eleições nos seus diferentes níveis. Então, pela lógica, se não soubessem ler, logo não poderiam votar, portanto, também não poderiam ser candidatos à nada! A exclusão fica mais visível se lembrarmos que cerca de 80 % da população brasileira no início da República eram analfabetos.


Alguns poderiam objetar que Nilo Peçanha era mulato e foi presidente do Brasil – ou melhor, era o vice que se tornou presidente no lugar de Afonso Pena. Tá, mas ele nunca pode assumir publicamente suas origens étnicas – além do mais, ele também sofria preconceito por parte da elite branca da “casa-grande”, que o chamava de “presidente do morro do Coco” – bairro popular de Campos dos Goytacazes, Rio de Janeiro, onde nascera. Enfim, devemos lembrar também que ele foi eleito vice, só tendo assumido a presidência por causa da morte do titular, em junho de 1909. Fora isso, a cor predominante na política brasileira na República Velha ou após a Revolução de 1930 continuou sendo a “branca” – entre aspas porque teríamos que ocultar que parte dessa gente teve inevitavelmente origem indígena e negra. E é branca, em sua grandessíssima maioria, até hoje!


Mas, ainda sobre exclusão, como falamos também no vídeo abaixo, os negros nas grandes cidades brasileiras foram jogados às margens, ao que hoje denominamos “periferias” ou “favelas”. Até recentemente, eles não tinham muito espaço nas universidades federais e estaduais, não assumiam importantes cargos privados ou públicos, não tinham cargos de chefia e não ganhavam a mesmo que seus colegas brancos. Coisas que mudaram um pouco, mas ainda permanecem muito distantes de uma inclusão em uma sociedade de iguais em direito – regredindo mesmo ao mínimo descuido ou como resultado de escolhas mal feitas.


Os negros sempre tiveram consciência de sua posição, impositivamente situada na sociedade. E por isso defendem seus espaços e relembram Zumbi, Palmares e os negros que vêm se destacando na luta contra o preconceito e a segregação. Segregação até hoje muitas vezes disfarçada e negada sob o pretexto da existência de uma “democracia racial”. Todos contribuíram para a “formação da Nação” e os negros sabem que eles contribuíram com sangue, com a carne e com vidas, milhões delas! 


Por isso, volto a dizer que o Dia da Consciência Negra não é exatamente para os negros, mas SIM para os muitos que ainda se escondem por trás de epidermes brancas, que se sentem “abençoados” por isso, que ainda não entenderam que não existe raça superior, NÃO EXISTE NEM MESMO RAÇAS!

Assista ao nosso vídeo!
Se estiver recebendo no e-mail e não conseguir ver o vídeo, clique aqui.

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