A região sul do antigo Mato Grosso (hoje Mato Grosso
do Sul) desde o fim do século XIX viu um aumento importante no fluxo de
migrantes, sobretudo gaúchos. Claro que esta migração está abaixo da que ocorreria
durante o governo de Getúlio Vargas
e posteriores, mas já começava a mudar o cenário regional.
Um desses gaúchos Thomaz Laranjeira, vindo com a como
provedor de suprimentos para a Comissão Mista
de Limites Brasil-Paraguai, do pós-Guerra do Paraguai, obteve, em fins de
1882, uma concessão de exploração, no sistema de arrendamento, de uma extensa
área de terras devolutas situadas na faixa de fronteira com a República do
Paraguai, isto é, a região onde mais tarde surgiria a povoação de Ponta Porã,
onde extrairia erva-mate [1].
áreas de produção de erva-mate, sendo que alguns deles disputariam território
com a Companhia Mate Laranjeira (sucessora
da empresa individual de Thomaz
Laranjeira), empresa que teve o virtual monopólio da produção ervateira no
estado nas primeiras décadas do século XX. É nesse sentido que o historiador
Paulo Queiroz nos diz que foi significativo o fluxo migratório para o sul do
estado logo após a Guerra do Paraguai
[2],
vizinhas (Minas Gerais, São Paulo, Paraná) e também do Rio Grande do Sul (sendo
que essa migração de gaúchos, como se sabe, teria um notável incremento na
década de 1890, em decorrência da Revolução Federalista). Tais migrantes
dedicavam-se, como seus antecessores, à agricultura de subsistência e à
pecuária bovina, sendo que, na região ervateira, não se furtavam também à
elaboração de erva-mate, tanto para consumo próprio como para comércio [3].
alguns desses migrantes acabou mesmo se mesclando com a da Companhia Mate Laranjeira. É o que conta, por exemplo, o senhor Ricardo Dauzacker a respeito de um dos
tios de sua avó, Modesto Dauzacker,
que foi administrador da Fazenda
Campanário, sede da empresa a partir da década de 1930, e um dos primeiros
prefeitos de Ponta Porã [4].
Aliás, sendo o assunto migração para o sul de Mato
Grosso e em alguns casos a produção de erva-mate, um exemplo importante é o da família Dauzacker (sobre eles falarei
em outra postagem). O senhor Astúrio
Dauzacker, primo de Ricardo,
disse que em 1905 teria vindo do Rio Grande do Sul seu avô, Constâncio Luiz da Silva, ao Guaçu, no
atual município de Dourados [5]. Além disso, o senhor Ricardo e seu irmão Clóvis,
são filhos do senhor Ramão Marques
Dauzacker, nascido em Dourados em 1914, um importante produtor (daqueles
que chamo de “colonos ervateiros”) no período posterior da Colônia Agrícola Nacional de Dourados, que também era comprador e
vendedor de erva-mate.
parte importante dos numerosos migrantes que vieram para o sul de Mato Grosso
até a década de 1930 se dedicou também à criação de gado e construíram um
“universo paralelo” à Companhia Mate,
muitos deles, assim como ela, vinculados ao mercado platino, igualmente
usuários do rio Paraguai [6].
veremos sobre as políticas de colonização do Estado Novo e a chamada Marcha para Oeste.
1. Os migrantes no sul de MT antes da década de 1930
2. As políticas de colonização do Estado Novo e a Colônia Agrícola Nacional de Dourados (CAND)
3. As ideologias do Estado Novo e os fatos que motivaram a criação da CAND
4. O Território Federal de Ponta Porã
5. A “Segunda Zona” da CAND
6. Concluindo a série Sul de Mato Grosso no século XX
* Foto do topo: Automóvel Ford carregado de sacas de erva-mate e alguns trabalhadores, em Campanário na década de 1920. Arquivo do APEMS/Campo Grande-MS.
** Originalmente postado em 27/jan/2013.
Referências:
Virgílio. À sombra dos hervaes mattogrossenses. São
Paulo: Ed. S. Paulo, 1925, p. 14-16.
Cimó. Articulações econômicas e vias
de comunicação do antigo sul de Mato Grosso (séculos XIX e XX). In
LAMOSO, Lisandra P. (org). Transportes e
políticas públicas em Mato Grosso do Sul. Dourados/MS: Editora da UFGD, 2008,
p. 44.
São Pedro, município de Dourados, em junho de 2008.
Dourados, MS, em junho de 2008.
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