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O Nordesde já foi a região mais rica do Brasil. Mas você sabe como isso mudou? Sabe porque o Nordeste é pobre e o Sul é rico? Nesse texto temos os fatores principais que mudaram situações históricas e permitiram ao Sul assumir a ponta da economia.


Quando a gente fala na situação atual do Nordeste brasileiro, precisa pensar em uma série de fatores que levaram a região a um nível econômico inferior. Dentre esses fatores, destacaria o histórico (somado ao econômico), que deixou uma herança duradoura que até hoje persiste. 

Um engenho de açúcar

A riqueza do Nordeste

Por muito tempo o Nordeste foi a região mais rica do Brasil, especialmente no período colonial. Economia que era centrada na produção monocultura do açúcar, o grande produto da colônia no século XVI e XVII.

Não é a toa que tivemos a invasão holandesa em Pernambuco e na Bahia. No momento em que tem-se a chamada União Ibérica (dos reinos de Portugal e Espanha), a Holanda, inimiga da Espanha, invade o Nordeste e domina a produção açucareira da região. Eles permaneceram no Brasil de 1630 a 1654, quando foram expulsos pelos portugueses. 

A invasão holandesa

Tendo sido expulsos, os holandeses se estabelecem no caribe. É aí que o açúcar brasileiro passou a sofrer forte concorrência do açúcar dessa nova região produtora. Aos holandeses se somariam ainda na concorrência os ingleses e os franceses.

O ouro e as primeiras mudanças

Depois disso, a situação do açúcar brasileiro nunca mais seria a mesma. E para piorar, outro golpe sofrido pelo nordeste (ou Norte, como era chamada então) foi dado com a descoberta de ouro em Minas Gerais e também em Mato Grosso, além dos diamantes de Goiás.

Com isso, houve um enorme fluxo de gente para a região mineira, de todas as regiões da colônia então ocupadas por não-indígenas. Assim como também um aumento da vinda de europeus, interessados em fazer fortunas.

Especialmente atingindo o Nordeste, houve a migração de elementos para as minas, levando consigo muitos escravos que antes trabalhavam na produção açúcareira. Era a “febre do ouro” brasileiro do século XVIII.

 

A lavragem do ouro e a presença escrava

O café vem pra ficar

O século XIX trouxe mais um golpe à região nordestina. Foi nesse período que o café passou a ganhar cada vez mais espaço, se tornando com o tempo o principal produto da economia brasileira, especialmente para exportação – em um tempo em que o governo vivia especialmente da arrecadação de taxas e impostos sobre exportação.

Se antes já havia transferência de mão de obra para a região mineira, com a produção cafeeira isso se intensificou ainda mais, dessa vez para as zonas de produção de café. Sobretudo a partir com o fim do tráfico de escravos (1850), a opção passou a ser a transferência de mão de obra de uma região desgastada para outra.

Ao contrário dos Estados Unidos, o Brasil não tinha um “criadouro” de escravos, restando então uma transmutação de almas. 

É justamente essa economia cafeeira que favoreceu uma forte acumulação de capitais, que seria fundamental para o desenvolvimento econômico do centro-sul, especialmente o que nos chamamos hoje de sudeste. E isso se deu por um tempo em algumas regiões de Minas Gerais e Rio de Janeiro, mas logo se concentraria no estado de São Paulo.

Os cafezais paulistas

Com essa produção cafeeira paulista, aceleraria a instalação de ferrovias, que por sua vez favoreceriam o surgimento de cidades. Além disso, o capital acumulado pelos barões do café seriam usados por essas mesmas pessoas para a instalação das primeiras indústrias e para o crescimento de algumas cidades até hoje importantes. É o caso da capital paulista, que se tornaria cada vez mais um centro comercial e industrial; mas também de outras cidades do estado, como Presidente Prudente, Ribeirão Preto e Campinas.

Enquanto isso o Nordeste ia sendo esvaziado das características e fatores originais que antes lhe davam força econômica. Somou-se a isso o empobrecimento da terra, exaurida pela cultura extensiva e predatória da cana de açúcar. E pela pouca preocupação com recuperação de solo em uma época em que terra era o que não faltava.

Paisagem desertificada do Nordeste

Terra para poucos

Outra coisa ainda a agravar a situação seria a concentração fundiária e o domínio oligárquica das melhores terras. Basta uma pesquisa breve para ver como os latifúndios dominam as paisagens ricas, sobrando o semiárido e outras terras impróprias para a agricultura e mesmo para uma vida digna. Em outros casos, contribui para isso a povoação de amplos espaços pela pecuária, essa também dominada pelos latifundiários. Daí resultar que as imagens do retirante e da população vivendo a seca, a miséria e a fome, são as que compõe o nosso imaginário da região Nordeste.

Ditas essas coisas, fica claro que o Nordeste não é pobre porque a população não trabalha. Ou porque não oferece atrativos para o capitalismo. Sendo bem “neutro”, podemos dizer que mão de obra não falta na região. 

Uma das faces do povo nordestino

O resultado é a pobreza

O motivo da diferença de riqueza então estaria numa série de fatores de complexidade muito grande. A exemplo da mudança ao longo dos séculos no tipo de economia dominante no Brasil; nas mudanças de interesses regionais; no ganho de importância e domínio (inclusive político) de São Paulo, mas também de Minas Gerais – só lembrar da República Velha em que esses dois estados dominavam.

A mudança no núcleo dinâmico da economia, como dizia Celso Furtado, completaria o quadro. Tendo havido uma mudança da agricultura para a indústria, especialmente depois da Segunda Guerra Mundial. O que estaria ligado ao desinteresse em investir no Nordeste.

O cordel é um dos muitos exemplos da riqueza cultural nordestina

Indústrias que com o tempo também vão se espalhando por outras regiões extremamente atraentes para investimentos. Havendo uma mudança, mais uma vez, na dinâmica do capital, passando muitas indústrias a deixarem São Paulo em direção ao Sul do Brasil, a exemplo de Santa Catarina e do Paraná.

Há tempos algumas medidas vem prometendo mudança a condição do Nordeste, ou miticar alguns de seus principais problemas. É para isso que foi criada a Sudene (Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste) em 1959. Que foi sucateada na época da Ditadura e vem sendo ressignificada nas últimas décadas. Assim como também a importante obra de transposição do rio São Francisco, que traria novas esperanças à população da região. Mas, ainda assim, muita coisa ainda precisaria ser feita para resolver os problemas do Nordeste. O que certamente não se pode fazer é colocar a culpa de sua condição empobrecida na própria população, especialmente a mais pobre.

A lista de livro sobre o Nordeste é extensa, mas para quem tiver interesse, segue um livro bacana.

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Antes de sair aproveite para ler mais sobre o assunto no nossa série de postagens sobre o Nordeste!

Assista a um vídeo com a história da burguesia!

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