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TV p/b, Cee, 14″. Imagem retirada de internet

Algumas pessoas às vezes podem pensar que resmungo demais e fico lamentando águas passadas. Pode até ser. Mais em minhas últimas aulas com alunos do CEJA (Centro de Educação de Jovens e Adultos) vi o quanto pode ser produtivo quando os alunos vêem o professor como alguém parecido com eles.

Têm dias que chegamos cansados nas aulas noturnas, inda mais quando temos aulas o dia todo antes (manhã e tarde). Mas, daí nos vem um sobre-folego e nos faz ver que ali podemos ser mais “humanos” que “super heróis”. Podemos tirar um pouco das armaduras e adornos do ensino regular e fazer uma aula de corpo mais exposto.

Por que estou falando isso? Para que possam entender o que me aconteceu nos últimos dias. Em uma aula bem recente o assunto era sobre o Brasil, sua população, sua economia, seus problemas. Isso porque a Educação de Jovens e Adultos tem essa particularidade, de ver as coisas com mais proximidade da realidade dos alunos. 

E justamente num dia cheio (manhã, tarde e noite) foi quando eu realmente senti que contribui (ou pelo menos as expressões dos alunos me fizeram acreditar nisso) para que refletissem com mais “propriedade” o que estava sendo exposto em aula. Falamos de tempos passados, interessantes ou não (para usar a expressão de Hobsbawm); expomos situações que nos davam orgulho e outras que nos faziam ver que a vida (e a história) dá voltas, às vezes para situações mais confortáveis.

Eu lhes dou um exemplo. “Evocamos” dos nossos passados situações que nos inseriam na economia brasileira, de tempos passados e de tempos bem mais recentes (para não dizer atuais), viajando por marés tenebrosas, em épocas de Sarneys e Collors, com inflações super-inflacionadas, quando nosso dinheiro valia um pouco de manhã e muito menos no fim do dia! Tiveram direito a “embarcar” em nossa viagem as compras de supermercado e de chinelos havaianas. Quem nunca foi Classe Média, pelo menos antes de Lula e Dilmalembra como era difícil comprar um tênis (isso mesmo, um par de tênis), aparecendo em cena então menções aos queridos e saudosos conga e kichute! Quem tem mais de 20 deve saber do que estou falando. Para quem nunca viu segue uma imagem.

Conga. Imagem retirada da internet.

Agora, nada mais tocou os alunos nessa noite de “experiências de vida” que o momento em que contei quando minha mãe trouxe a nossa primeira TV, preto e branco, 14″, para casa. Pois é, fiz questão de me aproximar de suas vidas ao mostrar que, a partir daí, eu me sentia “classe média”. Eu lembro de ter feito um trabalho na época de escola e ter citado a minha TV! Tudo ficou mais azul (no sentido de felicidade, não o que o Blues lhe dá), quando se juntou à nossa família uma antena de parabólica (rs).

Fiz questão de lembrar que muitas dessas mudanças tiveram início nos anos 1990, com o surgimento do Plano Real, após a experiência curta do URV. Fiz menção ao Fernando Henrique e depois aos dois Governos Lula, seguindo em direção ao Governo Dilma. Fiz questão de dizer que não isentava ninguém de críticas, mas devia lembrá-los de melhoras e avanços na economia, no social e mesmo, em alguns casos pelo menos, na política.

E quem ainda duvida de como essas experiências foram produtivas, deveria estar lá conosco, para ver os rostos dos alunos ao ouvirem e compartilharem experiências próprias. Experiências que se ligam à história – aquela recente do Brasil que vivemos – e às vidas vividas desse “povo brasileiro”, para usar agora Darcy Ribeiro.

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