“Componente importante” da maior crise migratória desde a Segunda Guerra Mundial, a República do Iêmen visualiza-se sob um cenário de extrema crise humanitária.
Assim, se faz importante explicarmos alguns fatores que colaboraram para a quebra dos direitos humanos com tamanha agudização.
País mais pobre da Península Arábica, o Iêmen teve sua formação definitiva apenas em 1990, integrando-se ao então Iêmen do Sul. Apresentando problemas crônicos em sua formação, tais como o tribalismo, a conflitante relação das elites políticas e a desigualdade permeiam as relações do país. Contudo, a conflagração do atual cenário se dá a partir de 2011.
Com a eclosão da Primavera Árabe, a latente manifestação social, nutrida pelas altas taxas de analfabetismo, desnutrição e de desemprego, forçou o então presidente, Ali Abdullah Saleh, a renunciar em favor de seu vice, Abdrabbuh Mansour Hadi. A ascensão de Hadi, um muçulmano sunita, contudo, desagradou a vertente xiita e em especial a facção política Houthis que, assistida pelo Irã, ascendeu ao poder em 2014, ao tomar a capital Sanaã. Em resposta, Hadi, apoiado pela Arábia Saudita, solicitou uma intervenção militar no país, objetivando recuperar seu governo. Desse modo, organizou-se uma coalizão de apoio ao Iêmen, composta por países da África e do Oriente Médio, e liderada pela Arábia Saudita, e a oposição Houthis, assistida pelo Irã.
Com a deflagração da guerra civil no Iêmen, a capacidade de organização do Estado reduziu-se a farelos. Em adição a isso, aponta-se a posição geográfica do país como fator, tendo em vista que ele serve como “porta de entrada” à Península Arábica para os imigrantes vindos da África, aumentando o fluxo de pessoas que sofrem com as mazelas da inanição Estatal e dos abusos de elites que tiram proveito da situação explorando e desrespeitando os direitos básicos humanitários.
Posto esse cenário, podemos deixar mais clara a situação do país e sua população através de alguns dados. Em 2018, cerca de grotescos 75% da população iemenita necessitava de assistência humanitária, e desses, 50% apareciam sob necessidade de ajuda imediata para sobreviver. Ainda, no mesmo ano, aproximadamente 250 mil pessoas chegaram ao Iêmen, provenientes principalmente do Nordeste Africano, e mais 190 mil pessoas deixaram o país.
Em suma, o majoritário número de pessoas sob carência de auxílio humanitário, mais o elevado número de transitários (leia-se migrantes ou imigrantes), evidenciam uma das maiores crises humanitários do século XXI, colocando em pauta o papel do Estado-Nação enquanto provedor dos direitos humanos básicos. Mas, como se vê, a consolidação do Estado-Nação também é deveras problemática.
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Fontes dessa postagem:
Dos textos
CERIOLI, Luíza Gimenez. Roles and International Behaviour: saudi⠳iranian rivalry in bahrain’s and yemen’s arab spring. : Saudi–Iranian Rivalry in Bahrain’s and Yemen’s Arab Spring. Contexto Internacional, Rio de Janeiro, v. 40, n. 2, p. 295-316, agosto 2018. FapUNIFESP (SciELO).
ONU. Migrantes no Iêmen vivem situação ‘terrível e desumana’, diz agência da ONU. 2018. Disponível em: https://nacoesunidas.org/migrantes-no-iemen-vivem-situacao-terrivel-e-desumana-diz-agencia-da-onu/. Acesso em: 27 abr. 2020.
Das imagens: ONU; Revista Exame; Médicos Sem Fronteiras.
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