Por que o problema palestino ainda não foi solucionado?

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Os conflitos entre os palestinos e israelenses tem se arrastado desde a fundação do movimento sionista no século XIX. O problema palestino parece não ter fim. Mas por que ele se perpetua?

A postura de Israel

Antes de mais nada, o problema palestino não é resolvido porque Israel não quer. A colonização por judeus tem ocorrida desde o século XIX, intensificada com o fim da Segunda Guerra e a criação do Estado de Israel. Ao longo das décadas seguintes, os territórios ocupados foram sendo aumentados. Com isso, a colonização seguiu e segue até hoje.

A ideia desde o início era: colonizar a região, ainda que precisasse expulsar os moradores de suas terras.

Os palestinos já estavam lá quando os judeus chegaram. Muitos deles foram expulsos de suas terras e muitos empresários perderam seus negócios. Se de início a população palestina era majoritária, com o tempo viu aumentar a presença dos judeus.

Os palestinos foram sendo acuados e cercados; muitos deles expulsos para o exílio. Tudo isso, como era de se esperar, gerou e gera os conflitos que conhecemos até hoje.

mapa de gaza e o problema palestino
Fonte: https://www.aosfatos.org/noticias/historia-conflito-israel-hamas/

Para piorar, durante muito tempo, Israel não reconheceu e ainda resiste a reconhecer a existência de um povo palestino. Quanto menos a possibilidade de existência de um estado palestino autônomo. Os palestinos que ficaram na região, tiveram que se submeter às arbitrariedades israelenses – o que acontece também nas regiões ocupadas e controladas, com a faixa de Gaza.

Mesmo nos momentos em que se propôe a negociar com os palestinos, Israel sempre coloca empecilhos. Por exemplo, só depois de décadas reconheceu a existência da Autoridade Palestina (AP), já no começo dos anos 1990. Mesmo assim, reconheceu apenas com muitos limites, que Israel mesmo tem imposto.

Daí a resistência do povo palestino ter sido feita durante muito tempo de fora do seu território. Muitos grupos de resistência se instalavam de forma mais ou menos precária nos países árabes vizinhos. Em muitos casos enfrentando a repressão dos países hospedeiros e guerras. Como a Guerra do Líbano que começou nos anos 1970 e expulsou os ativistas palestinos do país, com a ação direta e indireta de Israel e o aval dos Estados Unidos.

As ações armadas e o terrorismo

Desde de que foi criado, Israel tem trabalhado sistematicamente para associar o povo palestino ao terrorismo. Isso é conveniente para ganhar a simpatia do Ocidente para a causa israelita e justificar suas ações e retaliações.

A Organização para Libertação da Palestina (OLP), por muito tempo liderada por Yasser Arafat forneceu material para essa propaganda israelita. Especialmente através da Fatah, que agiu por muito tempo através da luta armada. Só se “apaziguando” com o Acordo de Oslo, dos anos 1990 – ainda assim por alguns anos apenas.

Nos anos 1980, surgiu também o Hamas. Que, aliás, surgiu em grande medida como resposta à nova postura conciliatória que foi assumindo a OLP desde os anos 1970. Hamas que sempre teve como método de ação a luta armada, através de ataques estratégicos (ou não), bombardeios e mesmo ações suicidas através de homens-bomba.

dica de livro

Israel x Palestina: 100 Anos de Guerra

O livro de James Gelvin, com mapas, ilustrações, glossário, biografias resumidas e uma lista enxuta e bem selecionada de leituras complementares, preenche os requisitos de um livro acadêmico da melhor forma possível.

A característica do Hamas sempre foi a intransigência. Se a OLP aceitou a ideia de dois estados na palestina (Israel e o estado autônomo da Plestina), o Hamas nunca aceitou a ideia da existência do estado de Israel.

Mas assim, devemos pensar que a luta armada é justificável, se tida como meio para a autonomia do povo palestino. Ainda mais diante das ações opressivas de Israel, das anexações de territórios e das retaliações até mesmo de movimentos caracteristicamente pacíficos, como a primeira Intifada (1987-1993).

Mas a luta armada palestina tem sido usada, como fez a OLP e faz o Hamas, baseada na ideia (com muita razão) de Israel ser um país de intrusos, colonialistas apoiados pelas grandes potências. Houve diálogos, até houve; mas muitos palestinos seguem defendendo a extinção de Israel e a retomada do território. O que se agrava diante da postura de Israel.

A que ponto chegamos

Aí que chegamos aos dias atuais, onde não há acordos duradouros e o problema palestino não tem fim.

Israel segue firme na sua convicção de que a Palestina não pode ter autonomia. Cria muros, barreiras, áreas de fiscalização e controle de movimento dos palestinos. Promove para isso a repressão à qualquer manifestação, seja ela passífica ou não. Do outro lado, segue a resistência palestina, tendo o Hamas agido através do terrorismo, mas não só.

Conversações houveram durante todas essas décadas, mas Israel não quer ceder. Tem grande poder de destruição nas mãos e com isso mantém sua posição, considerando-se o único país legítimo na região.

Já os palestinos, que tem o Hamas atualmente como seu grupo mais militarmente ativo, segue com suas ações armadas. No meio disso, o povo civil palestino, que em sua maioria não apoia o Hamas, mas quer o direito a sua existência e sua autonomia.

Só na atual guerra israelo-palestina, que começou em outubro de 2023, o número de mortos já ultrapassa a marca de 35 mil, fora os mais de 70 mil feridos, sendo a sua grande maioria civis. Segundo o site Carta Capital, um cessar-fogo chegou a ser negociado, mas não avançou diante da falta de concordância entre os termos.

Leituras recomendadas

A Questão da Palestina, de Edward Saíd
Palestina: um Século de Guerra e Resistência, de Rashid Khalidi
Palestina – Uma Biografia, de Rashid Khalidi

Fonte das imagens: O Globo, UOL, Terra, Carta Capital, AosFatos.

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